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Tristeza mortal

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Otávio Mangabeira foi uma das maiores figuras da política brasileira. Iniciando sua trajetória ainda na República Velha, foi o último ministro do Exterior daquele período e, depois de amargar duas prisões e dois exílios no regime Vargas, retornou ao país com a queda do ditador, elegendo-se, sucessivamente, deputado constituinte, governador da Bahia e senador pelo seu estado.

Primeiro presidente da antiga UDN, ele chegou a ver aquele partido (do qual já se desligara) ganhar a eleição presidencial com Jânio Quadros, mas faleceu antes da posse deste, poupando-se, assim, do dissabor de assistir à renúncia do histriônico presidente e de testemunhar a crise política em que o Brasil, então, mergulhou, com a ascensão de João Goulart e o longo regime autoritário que se lhe seguiu. Morreu, em novembro de 1960, desalentado com os rumos que a política brasileira tomava, já pressentindo, talvez, tudo o que viria depois – e até a tomada do poder pelos militares chegou a prever.

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Dizia, no fim da vida, ao cabo de uma longa carreira política, que sua tristeza era mortal. Trazia, aliás, no bolso do pijama, quando expirou, a famosa frase de Rui Barbosa sobre o desencanto com os homens e com o constante triunfar das nulidades.

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Para quem viveu os tempos do grande orador baiano e conheceu o panorama político em que atuou, não há como esquecer o pessimismo que o dominava. O quadro político que o país apresenta, comparado àquele que tanta desilusão causara a Mangabeira, é muito mais grave, todavia, é, simplesmente, lastimável.

Os governos populistas fizeram vistas grossas à corrupção, como se esta fosse uma estratégia inevitável para dominar o poder por longo tempo, assim como negligenciaram no trato da coisa pública – e, por isso, tivemos o mensalão, o petrolão, o desvio de recursos do BNDES, o influxo de interesses ideológicos, para financiamentos externos, enquanto políticos se locupletavam em relações promíscuas com empresários inescrupulosos.

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Quando se esperava que o novo governo corrigisse os rumos, o que se viu foi que, a cada dia, o país se surpreendia com a revelação do comprometimento de seus agentes e aliados com os mesmos vícios. O Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal, às vezes com algum excesso ou com desnecessário estardalhaço, têm cumprido seu papel, investigando os fatos, processando os responsáveis e punindo os culpados.

Mas, olhando em torno, o que nos resta no meio político? Em quem confiar hoje? Qual o líder que, porventura, desponta no horizonte? A eleição presidencial se aproxima, e boa parte do eleitorado, perplexa e atônita, não sabe em quem votar. A tristeza mortal a que aludia Otávio Mangabeira tornou-se um sentimento comum.

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