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Quantas Jéssicas precisarão morrer?

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Rio de Janeiro, 4 de maio de 2022. Ana Luiza Dias, mantida em cárcere privado, espancada e humilhada pelo namorado por três dias, recebe alta do hospital após ter a mandíbula quebrada e vários hematomas pelo corpo.

Contagem, 5 de maio de 2022. Jéssica Dantas é assassinada com 16 facadas pelo ex-namorado. Jéssica, que o havia denunciado por agressão, saiu com um pedaço de papel de uma delegacia que não a protegeu, e ele voltou para terminar o que havia começado.

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As histórias de Ana e Jéssica poderiam ser exceção, mas não são. No Brasil, em 2021, 1.319 mulheres foram vítimas de feminicídios. 1.319 sonhos foram roubados. A cada sete horas, uma mulher é assassinada. Os números não param por aí. No mesmo ano, foram registrados 56.098 casos de estupro (incluindo vulneráveis). São 153 estupros cometidos por dia. A cada dez minutos, uma menina ou mulher é estuprada no país. Tem mais, cerca de 97% das mulheres que usam transporte público já sofreram algum tipo de assédio. Até quando?

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Pensar que, em algum momento da vida, todas nós sofremos ou iremos sofrer algum tipo de violência por sermos quem somos, mulheres, é desanimador. Nos veem como posse, como um produto. Colocam-nos como inferiores, nos pagam menos por sermos mulheres, julgam nossas roupas, querem dizer o que fazer com nossos corpos, nos culpam pelos seus crimes, nos agridem, assediam e nos matam. Até quando?

Até quando apanharemos nas ruas e ninguém fará nada para nos ajudar porque em “briga de marido e mulher não se mete a colher”?

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Até quando nos assediarão no nosso ambiente de trabalho, no transporte público, nas boates, bares e ruas?

Até quando perderemos tantas vidas? Até quando teremos tantos corpos violados? Até quando esses crimes ficarão impunes no Brasil? Até quando não teremos respostas para essas perguntas?

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Neste momento, por exemplo, uma mulher foi assassinada, estuprada ou assediada. Nesse exato minuto. Agora. Até quando?

Precisamos de políticas públicas eficientes. Precisamos que nos protejam. Precisamos nos proteger. A certeza da impunidade nos deixa completamente vulneráveis. Até quando? Quantas Jéssicas precisam morrer para que possamos ter uma mudança efetiva na nossa sociedade?

Tantas perguntas sem respostas e o medo do que está por vir assola a minha mente. Comecei a escrever esse artigo com lágrimas nos olhos. Lágrimas de medo, de raiva, de tristeza e de luto. Lágrimas por todas as mulheres que se foram precocemente. Lágrimas por todas aquelas que foram violadas e tiveram suas vidas mudadas para sempre. Lágrimas por aquelas que irão sofrer algum tipo de violência. Lágrimas por mim, que já sofri assédio e que sofrerei novamente em algum momento da minha vida, mas essa dor que dói na alma é a mesma que nos impulsiona para mudar o futuro.

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Que possamos ser fortes e nos unir em um propósito, de transformar o Brasil em um lugar seguro para sermos quem somos, do jeito que queremos. Para que sejamos, realmente, livres.

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