Domingo, dia 12 de abril, calou-se uma das vozes mais contundentes e respeitadas da luta pela redemocratização do país em Juiz de Fora. Falo do ex-professor da Faculdade de Engenharia da UFJF e coronel reformado do Exército Brasileiro, Henrique Delvaux de Oliveira. Percebendo os rumos que o movimento militar de 1964 tomava, buscou com a rapidez possível a reforma e, já na reserva, passou a militar (sem trocadilho, no sentido estrito da palavra) na luta pela democracia.
Delvaux passou a ser sinônimo de liderança com disposição e firmeza de caráter para levar as bandeiras pelo restabelecimento do estado de direito. Se o partido de oposição passava por um momento delicado… Chamem o Delvaux! Movimento pela anistia… Chamem o Delvaux! Eleições diretas… Lá estava o Delvaux. Fundando e, posteriormente, dirigindo o movimento docente… Encontrava-se o Delvaux. Em movimentos da Igreja… De novo se via o Delvaux. Era, enfim, o coronel da democracia! O “militar diferente, que todos confiam”, na visão de um militante que, juntamente com ele, foi processado pela lei de segurança nacional.
Entretanto, Delvaux não era daqueles militantes chatos, donos da verdade, que sobrepõem suas crenças à razão dos argumentos. Sabia ouvir como ninguém e era dono de um humor fino, que fazia dele uma companhia agradável, por mais áspera que fosse a conversa. Dono de expressões como “altar sagrado do bar” ou que “a mesa de um bar é um confessionário encorajado por doses estimulantes de álcool”, tinha sempre uma tirada capaz de descontrair o ambiente.
Mas Delvaux também não se furtava de suas confissões. Cometerei o pecado de revelar duas delas. A primeira diz respeito a seus filhos. “Tem coisas que não compreendo e tenho dificuldade para aceitar, mas como os admiro pela busca incessante pela felicidade.” A outra, à sua esposa. “As vezes acordo e fico imaginando como a Marta pode ainda me amar depois de tanto tempo. Isso só é possível compreender quando penso em tudo que ela significa para minha vida. É uma pena que tão poucos valorizam o amor.” Esse era o Delvaux, o militar militante que nunca perdeu a ternura.
Sua morte ocorreu num domingo de efervescência democrática em todo o país, como numa homenagem ao democrata que partia. Vítima de uma doença que foi lentamente minando suas forças, retirou-se de cena sereno como é próprio dos grandes combatentes. Costuma-se dizer que a cidade ficou mais pobre com a morte de fulano ou de sicrano. A herança que nos deixa esse homem mostra como ficamos mais ricos com sua vida.