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Respeitemos o Papa emérito Bento XVI

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O filme “Os dois papas” não foi justo com o Papa emérito Bento XVI. Neste sentido, discordo da análise feita pela teóloga sra. Maria Clara Bingemer, publicada em recente artigo para o Jornal do Brasil. Eu entendo que nenhuma pretensa exigência artística baseada na ficção cinematográfica torna justa uma arbitrária manipulação da vida ou do trabalho de uma pessoa, sobretudo quando se transmite uma errônea interpretação da história. O histórico teológico e eclesiástico de Bento XVI sempre foi admirado pelo Papa Francisco.

Há, portanto, no pontificado de Francisco, uma continuidade doutrinal, mesmo porque os papas não decidem nada segundo o próprio arbítrio, mas dão voz à fé da Igreja baseada nas Escrituras e na Tradição Apostólica. Um bispo espanhol pôde dizer: “‘Os dois papas’ pretende que gostemos de Jorge Mario Bergoglio, que vai ser o sucessor do Papa Bento XVI, e que se gere em nós uma antipatia em relação a tudo o que este último representou”.

Bento XVI é apresentado como uma “pessoa estranha, egoísta, sem empatia, incapaz de dialogar com o mundo”, enquanto Jorge Mario Bergoglio é “exatamente o oposto” (dom José Ignacio Munilla, bispo de San Sebástian). Por isso, acrescenta dom Munilla, “o filme é mesmo injusto com relação à imagem que pretende dar dos dois papas. O filme é um reflexo fiel não de como são estes dois papas, mas de como foram manipulados”.

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Não é verdade, como sugeriu a citada teóloga sra. Bingemer, que o maior legado do Papa emérito Bento XVI foi a renúncia em prol da chegada de um sucessor reformista. Não é o que pensa o Papa Francisco diante da brilhante contribuição teológica e magisterial que nos deixou o Papa Ratzinger. Vale lembrar que Bento XVI, ainda como cardeal, foi um dos grandes responsáveis pela elaboração do histórico Catecismo da Igreja Católica que o memorável Papa São João Paulo II promulgou como “texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica”. Também é digno de nota que, com o Papa Francisco, a Igreja não abandonou a oposição do Vaticano diante das análises marxistas da Teologia da Libertação, outrora muito difundida no Brasil.

Além disso, o livro do sr. Leonardo Boff (Igreja: carisma e poder) continua sendo herético, porque impõe um inaceitável relativismo eclesiológico que a Igreja condenou com muita justiça no tempo em que o então cardeal Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Crítico do Magistério da Igreja, Boff optou pelo caminho da desobediência e da indisciplina e depois abandonou seu próprio ministério sacerdotal. Neste plano da heresia e do cisma, não se pode falar de autêntica teologia católica, porque a teologia é uma ciência eclesial que, por sua própria natureza, implica necessariamente obediência à Igreja. Portanto não me pareceu justo a sra. teóloga Bingemer apresentar o sr. Leonardo Boff como se fosse uma referência de fé católica ou de ortodoxia.

Sobre a Teologia da Libertação e justificando a histórica postura da Santa Sé orientada pelo então cardeal Ratzinger, o Papa Francisco declarou assim: “Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade. O cardeal Joseph Ratzinger escreveu duas instruções quando era prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé. Uma muito clara sobre a análise marxista e a outra olhando para os aspectos positivos. A teologia da libertação teve aspectos positivos e desvios, especialmente na análise marxista da realidade” (Papa Francisco: entrevista ao jornal espanhol El País: 20/01/2017).

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O Papa Francisco propõe a todos os católicos que respeitem o grande Papa emérito Bento XVI. Segundo Francisco, “Bento XVI não é uma peça de museu”, e “a sua sabedoria é um dom de Deus”. Afirmando que os abusos contra menores são feridas profundíssimas, Francisco explicou que a Igreja trabalha muito contra isso, “seguindo o caminho aberto por Bento XVI” (entrevista do Papa Francisco ao jornal “Corriere della Sera” em 05/03/2014).

Deve-se lembrar que o memorável Papa São João Paulo II considerava o então cardeal Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) como homem de sua inteira confiança enquanto defensor da doutrina católica, e esta confiança constante do inesquecível papa polonês tem um peso histórico relevante que não pode ser esquecido como se a doutrina católica fosse simplesmente flutuante ou insegura.

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Feitas essas considerações, deve-se reconhecer firmemente que o Papa emérito Bento XVI permanece como um grande exemplo de homem de fé, de coragem e de trabalho em prol da verdade. Um homem de Deus!

 

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