No último dia 14 de maio, inauguro em mim 30 anos de atuação profissional no serviço público municipal, em nossa querida Juiz de Fora. Para começo de conversa, desejo fazer um pequeno parêntesis: eu sou muito grato à cidade. Pode parecer piegas, que seja então; eu amo Juiz de Fora! Através de concurso público, realizado pela Prefeitura local, no ano de 1986, entrei para o quadro de recursos humanos do município. Sou assistente social com dedicação exclusiva, integral, com a quase totalidade destes anos – são 28 deles – dirigidos ao trabalho público com a população idosa, que aqui construiu sua vida e constituiu suas famílias. É impossível para mim deixar de pensar nesta trajetória de construção social e política para a vida da cidade e, principalmente, para o conteúdo dos meus dias, ao longo deste tempo. Não estou certo disto, ou se trata de apenas uma pequena impressão pessoal, mas parece-me que, com a passagem do tempo, a gente fica com mania de qualificar a nossa vida; medir os resultados; avaliar a nossa caminhada; as nossas escolhas; o nosso trabalho: será que, com todo este tempo consumido, com as ações realizadas, encontros e desencontros, conquistas e frustrações, tudo isto fez sentido para a minha vida e para a vida das pessoas idosas ou não, que tive a oportunidade de atender? Eu acredito que sim.
Não tenho dúvida alguma ao afirmar que o trabalho social é muito maior do que a minha limitada estatura física. Minha memória é do tamanho do mundo. Este é o meu lugar, na relação com as pessoas. Crescer com o outro. Como o meu fim profissional não está mais tão longe assim, é natural e saudável até que eu adquira e construa outras inserções na vida, novas possibilidades, busque novidades, reinvente a própria vida. Afinal de contas, um novo ciclo se aproxima. Uma nova estação está à espera de meus sinais. Hoje fico frente a frente com a seguinte questão: qual é o meu projeto de vida para os anos pós-trabalho? É isso mesmo! Eu estou falando da minha aposentadoria.
E sobre o trabalho social realizado com as pessoas idosas neste período, posso dizer, com orgulho, que a cidade alcançou muitas conquistas. Se comparada com outras cidades do nosso estado, Juiz de Fora sai na frente. O exemplo emblemático desta afirmação é a existência do belíssimo Centro de Convivência do Idoso Dona Itália Franco, numa justa homenagem ao nosso ex-presidente da República Itamar Franco, cuja mãe empresta o nome a este importante equipamento de atendimento aos idosos.
Em relação à presença de Conselhos Municipais de Idosos em Minas Gerais, ainda é pouco o número deles em nossas cidades. Nós aqui já o temos, desde 1994 (aos trancos e arrancos, vamos em frente). A mais recente criada Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa representa sim um grande avanço no trabalho social. Não há lugar mais apropriado e certo para discutir e deliberar leis e ações públicas do que o Parlamento Municipal. E, desde 2011, a Comissão trabalha e tem caráter permanente de atuação. Independentemente de qual seja a composição da Legislatura, esta Comissão não deixará de existir (Ponto para nós!).
Quanto à promoção humana e emancipatória dos idosos, percebo que parcela da população – não são todos os idosos – está mais ativa, participativa e empoderada de seus direitos, possibilidades, necessidades e desejos. Entendo também que precisamos sair do lugar para atender aqueles idosos dependentes em seu ambiente familiar. A oferta de serviços públicos nesta direção deixa a desejar. A criação de outras modalidades de atenção aos idosos como, por exemplo, Centro-dia – que é um ambiente de trabalho interdisciplinar para a reabilitação física-social-psicológica, é extremamente necessária. As Ilpis – Instituições de Longa Permanência para Idosos (asilos/clínicas/pousadas/hotéis) precisam deixar o exílio social e seus idosos deveriam ter o alcance das ações das políticas públicas municipais que não existem para eles. Outra pauta importante é a introdução de profissionais Cuidadores de Idosos nos quadros do Município, esta é uma demanda prioritária que precisa ser vista: a procura é diária, constante e crescente.
Para finalizar, desejo agradecer à cidade, e penso que, se já é muito bom saber e reconhecer que muito foi feito em quase 30 anos, melhor é apostar, com certeza, de que mais vale o que será!