A cidade de São Paulo entrou em um ciclo de urbanização sem precedentes, a partir da década de 1920, estabelecendo precocemente uma ligação intima com as cidades ao seu redor – Mogi das Cruzes, São Bernardo do Campo etc. O processo de metropolização foi acompanhado de grande transformação cultural, notadamente nas atividades de lazer.
As práticas culturais ganharam outra conformação. Os velhos hábitos de descanso pacato em seus lares nos fins de semana gradualmente cederam espaço para o lazer em áreas externas (ruas, clubes etc). O movimento do corpo, a aglomeração humana e a vida ao ar livre foram se tornando, gradativamente, os pilares do novo modelo de vida.
O Clube Náutico Mogiano se tornou um ponto de atração para os jovens e suas famílias. Nesse sentido, em fevereiro de 1943, em plena Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, foi cenário de uma operação da polícia política – o Dops – para monitorar um piquenique às margens do rio Tietê, algo irresistível para a juventude da época.
A promoção e organização do evento coube à Juventude Operária Católica (JUC), entidade da Igreja Católica que atuava junto aos operários industriais em transição para a vida adulta – adolescência e juventude. Seguindo o protocolo em vigor, solicitaram autorização para o órgão policial, recebendo aprovação para realizar o piquenique.
A distribuição de senhas entre os participantes, procedimento de segurança adotado pelos organizadores, teve o efeito esperado, pois não foram realizadas atividades de cunho político na ocasião. O investigador destacado para o local anotou em seu relatório ter o evento se desenvolvido “na melhor ordem possível, nada se registrando”.
Os procedimentos de segurança adotados impediram o ingresso de “pessoas estranhas” ao evento, potenciais “inimigos objetivos” do governo. A desmobilização social foi bem-sucedida, ao menos no caso em questão. Típica de regimes autoritários, tal postura agride os direitos individuais – e.g., as liberdades de associação e de reunião.
O autoritarismo está enraizado em nossa cultura política, marcada pela ideia de que os atores sociais necessitam da tutela do Estado. O exercício da autonomia tende a ser lido como uma ameaça à ordem e às instituições sociais. Em uma democracia robusta encontra-se uma situação próxima ao equilíbrio entre o Estado e a Sociedade Civil.