É indubitável que, nos últimos anos, o número de influenciadores digitais dedicados exclusivamente a compartilhar sua vida no universo fitness aumentou substancialmente. O que diminui, também em larga escala, é a idade dos seguidores desses perfis, cada vez mais populares entre adolescentes.
A Manu Cit, estudante de medicina de 19 anos que soma mais de 2,6 milhões de seguidores nas redes sociais, é a demonstração perfeita do ideal jovem de saúde – talvez por ter ajudado a criá-lo. Às 6h20, ela já postou vídeos fazendo seu devocional matinal, correndo na orla e cozinhando seu café da manhã perfeitamente balanceado. No restante do dia ela vai assistir às aulas da faculdade e fazer mais um treino, dessa vez de musculação.
Já se foi o tempo em que a juventude esbanjava inconsequência em relação à saúde, abusando da vida boemia e deixando a preocupação com o próprio corpo para a crise de meia idade. Em pouco tempo na internet, influenciadoras como a Manu conseguiram subverter as concepções do que ser jovem representa: a moda agora é praticar esporte, acordar cedo e priorizar o bem-estar.
O impacto disso é majoritariamente positivo. Solidificam-se as tendências há muito iniciadas de diminuição do uso da nicotina e do álcool e cria-se espaço para uma população mais ativa. No entanto, o culto excessivo à produtividade, que vem atrelado a esse tipo de rotina, não é tão benéfico assim.
O que acontece é que, ao contrário do que somos compelidos a acreditar, ter uma vida saudável não é simplesmente uma escolha. Praticar atividades físicas, por exemplo, exige tempo, algo inexistente na vida daqueles que trabalham ou estudam em horário integral e que enfrentam horas de trânsito para chegar em casa. Produtos orgânicos são o dobro do preço, um luxo que a maioria da população não pode ter. Além disso, mesmo com todas as condições adequadas, é inevitável que nem todos os dias sejam perfeitamente organizados.
Praticar atividades físicas, por exemplo, exige tempo, algo inexistente na vida daqueles que trabalham ou estudam em horário integral e que enfrentam horas de trânsito para chegar em casa. Produtos orgânicos são o dobro do preço, um luxo que a maioria da população não pode ter. Além disso, mesmo com todas as condições adequadas, é inevitável que nem todos os dias sejam perfeitamente organizados.
São em momentos como esses, que os tiktoks desses influenciadores de rotina criam, em pessoas muito jovens, um sentimento exacerbado de fracasso e incompetência. Sentimento esse que pode impactar, a longo prazo, a forma como enxergamos a nós mesmos e nosso papel no mundo. Não entenda mal, é obvio que a elitização de hábitos saudáveis não é culpa de quem posta a sua própria rotina na internet. Mas é à falta de transparência desse tipo de influenciador que devemos atribuir essa ideia utópica de mega produtividade que arruína qualquer resquício de motivação.
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