Comemoram-se nesta semana dez anos de pontificado de Francisco, Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica. São muitas as inovações trazidas por Francisco para diminuir a tradicional distância entre o Papa e a grande comunidade de fiéis. Já ao apresentar-se à multidão que enchia a Praça de São Pedro após sua eleição, ele não usou uma saudação eclesiástica, mas um simples “boa noite”.
Tornou a surpreendê-la quando, antes de dar a bênção papal, pediu que todos rezassem por ele. Aliás, até hoje ao despedir-se dos fiéis ele recomenda: “não se esqueçam de rezar por mim!”. Com esse gesto ele se coloca como o pastor que caminha junto com as ovelhas, e não entre elas e Deus. Muita coisa aconteceu desde que o Cardeal Bergoglio tomou o nome de Francisco e, inspirado no santo de Assis, assumiu a difícil missão de colocar em prática as grandes diretrizes do Concílio Vaticano II. Evocamos aqui duas delas.
Contou o falecido cardeal de Havana que durante uma das reuniões que antecederam o consistório para a eleição do papa, o cardeal Bergoglio citou a passagem do Apocalipse (3, 20) que se refere a Jesus batendo à porta e esperando que ela seja aberta. O texto fala, é claro, que Ele quer entrar, mas Bergoglio sugeriu que às vezes Jesus está dentro de casa e espera que alguém abra a porta para Ele sair. E é este o tema de sua primeira exortação apostólica: A alegria do Evangelho. Ali o Papa fala de Igreja em saída e usa a frase lapidar: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.”
Esta é proposta que vem guiando o atual pontificado em sua relação com o mundo contemporâneo: uma Igreja sem pompas, próxima de migrantes e pobres, que dialoga com movimentos populares, que se envolve com a questão ecológica, assume a causa dos povos originários, condena todas as guerras e defende a paz mundial, mesmo sendo criticado por seu não-alinhamento político.
Seguindo a melhor tradição cristã, que condena toda guerra, Francisco tem alertado o mundo para o fato de que está em curso uma guerra que não é (ainda?) generalizada, porque são guerras locais. O que varia é a forma de cada guerra: étnica, religiosa, por minérios, de guerrilha, de desgaste… No dia 2 de fevereiro, durante sua viagem à República Democrática do Congo, Francisco deu uma entrevista insistindo nesse tema: “Abramos os olhos para o mundo: o mundo inteiro está em guerra! A Síria está em guerra há 12 anos, e depois o Iêmen, Mianmar, com o drama rohingya. Também há tensões e conflitos na América Latina. E, depois, esta guerra na Ucrânia.”
Diante dessa realidade, ele pergunta: “A humanidade terá a coragem, a força e, inclusive, a oportunidade de retroceder?” E ele mesmo responde: “Segue-se adiante, adiante, adiante rumo ao abismo. Não sei. É uma pergunta que me faço. Lamento em dizer isso, mas estou um pouco pessimista.”
Esse pessimismo não significa desistência, e sim alerta para a dificuldade de estabelecer-se a paz mundial. Ela é possível e necessária, e cabe a nós apoiar decididamente todas as iniciativas em seu favor. É isso que nos pede o bom Papa Francisco. Não nos esqueçamos de rezar por ele.