A corrupção na política e nos ambientes governamentais, a falência dos partidos e a desmoralização dos legislativos deslocaram o ativismo democrático para outras esferas. Nesse vácuo institucional, ampliaram-se os espaços das redes sociais como lócus dos debates, fortalecendo as excentricidades, o culto à espetacularização rasteira e os confrontos ideológicos que mais parecem “pancadaria de rua”. E, nelas, o extremismo do “bateu, levou” e da ridicularização dos contrários avança num patrulhamento fundamentalista sem precedentes, ancorado pelas fake news – a mais nova ferramenta de sabotagem da comunicação de massa. Aliás, traquinagens que fariam inveja ao ministro Joseph Gobbels, da propaganda nazista de Hitler, para quem a mentira, repetida com insistência, aos poucos se consolida como verdade.
Neste cenário confuso e difuso, a política como território público e livre de tutelas para debates e construção de ideias perdeu protagonismo e efetividade. Uma nova equação se impõe, especialmente no campo virtual, dominada pelos extremos, num verdadeiro campo de batalha sem regras, abrindo as portas para os “novos autoritarismos”. A história nos ensina que os regimes totalitários se nutrem desses momentos democráticos depressivos, quando a liberdade de expressão vai, aos poucos, cedendo seu lugar na ágora social para as narrativas prontas, carregadas de moralismos, dogmas e verdades preconcebidas. Elas ganham a simpatia do imaginário coletivo, enojado da inoperância da máquina pública dominada por uma classe política inepta e corrupta, que provoca a desorganização do Estado e sua ineficiência. Os debates institucionais e seus ritos oficiais são vistos como embromação, sem qualquer eficácia ou necessidade.
A sociedade, cansada de sucessivos desgovernos, abalada pela crise econômica e atônita com a situação que se arrasta, não compreende que o mal está no atual sistema político ultrapassado, retalhado e viciado. Tal quadro produz uma classe dirigente ruim, que também vitimiza a democracia, com ações e omissões abusivas e cruéis. E, sem condições de separar “o joio do trigo”, boa parte da população culpa a liberdade de expressão e a própria democracia pelo insucesso geral, pavimentando inconscientemente caminhos autoritários com promessas de “restauração” da ordem e da “recuperação” dos preceitos morais conservadores “perdidos”. Não percebem que a liberdade e a diversidade possibilitam expor suas revoltas e indignações atuais e que, sem elas, no futuro, poderão estar impedidos ou amordaçados quando desejarem contestar ou gritar por justiça!
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