Bolonha e Paris são comumente apontadas como as mais antigas universidades, datando a primeira do final do século XI. Antes delas, os mosteiros assumiam, entre outros espaços, a representatividade dos locais destinados aos saberes. O paulatino crescimento das universidades nas cidades europeias, ao longo dos séculos, fez florescer o exercício do pensamento crítico e do analítico, que iriam se converter em outras repercussões no plano político e social. O que caracteriza o conceito de universidade é, entre outros fatores, a noção de autonomia e diversidade, ou seja, os estudos ali orquestrados têm como principal peculiaridade a pluralidade de saberes, o incentivo à curiosidade, nem sempre pragmática, a imersão nas investigações, almejando a construção de avanços coletivos.
Recentemente, as universidades parecem, de fato, ter ocupado os jornais – como nunca o fizeram. Afinal, ensino e aprendizagem não fazem barulho, não rendem grandes manchetes – são da ordem das transformações sinfônicas, sutis, avassaladoras porque essenciais, intrínsecas.
De um lado, as instituições buscam narrar seus propósitos, e, de outro, abordagens, não raro, pouco amistosas podem ser vistas. Aprendemos na escola, em tenra idade, que devemos respeitar os mais velhos, não jogar o lixo na rua, tratar o outro como a si mesmo e que, quando houver um problema, a gente tem que conversar. Os ânimos andam exaltados, e os diálogos que permeiam os conflitos entre diferentes visões não parecem em nada com uma conversa.
A educação nos constitui, ainda que seja sempre o elo mais fraco nas dinâmicas dos sistemas produtivos. Graças a ela, organizamos o nosso mundo, a nossa linguagem, o nosso estar e a maneira de se estar no mundo e de transformá-lo em um lugar melhor.
Diante de tantos antagonismos, fica a pergunta se os protagonistas das narrativas atuais seriam mesmo as universidades – etimologicamente, companhia, corpo, comunidade. Cabe indagar, ante os ânimos tocados, qual simbolismo essas instituições estariam carregando e se toda essa movimentação não retira dos enredos de fato substanciais, decisórios, a parcela que lhes é devida.
As universidades parecem, no momento, protagonizar dilemas muito mais amplos do que as suas instâncias de fato constituem, mas em relação aos quais elas não se furtam a lançar indagações não diretivas, fomentando o que de fato as singulariza: um corpo coletivo e plural de saberes em circulação, afeitos ao mundo e à busca por soluções melhores do que as já descobertas. Atenta à sua missão formativa, talvez seja para a universidade contemporânea a sua própria singularidade o seu maior peso, encanto e desafio em tempos de pouca ternura.
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