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A morte e a morte do Instituto Granbery

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Em 1996, ainda estudante do Instituto Granbery da Igreja Metodista, fui apresentado ao universo de Jorge Amado por seu fabuloso romance “A morte e a morte de Quincas Berro D´Água”.

Graças ao olhar sensível da professora Margareth Mucci, aprendi que é possível morrer várias vezes em vida até a derradeira – ou não tão derradeira assim – morte física.

Mais dramático do que a finitude humana, porém, é presenciar uma instituição secular ter seu fim, como o Granbery, criado em 1889, quanto mais por saber que isso pode levar à perda de registros que estão na memória da cidade ou que, só ainda não estão, porque existe uma riqueza a ser descoberta em documentos e fotos arquivados na instituição. Recapitulemos os que já sabemos.

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Em 1911, foi criada a primeira faculdade de Direito da cidade, justamente no Granbery, oferecendo à população de Juiz de Fora, com mais de 100 mil habitantes, um curso de excelência, tendo no corpo docente “lentes”, professores de renome nacional, como o jurista e à época já imortal da Academia Brasileira de Letras, Silvio Romero.

Na década de 20, intelectuais foram forjados nos Grêmios Literários “Castro Alves”, “Sylvio Romero” e “Coelho Netto”, a ponto de outro imortal da ABL, Coelho Netto, ter vindo à cidade participar de atividades no Granbery, mesmo colégio que, em 1927, legou à cidade a fundação de um grupo de escoteiros.

Durante a grande enchente de 1940, tornou-se mítica a participação do ex-reitor Mister Moore, cuidando das pessoas mais vulneráveis e relegadas socialmente.

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Aliás, o Granbery teve outros grandes educadores, como seus ex-reitores Irineu Guimarães e Vittorio Bergo, figuras humanas e intelectualmente respeitadas, ambos maçons de duas das mais antigas Lojas Maçônicas da cidade e do Estado, a “Fidelidade Mineira” e a “Caridade e Firmeza”.

O mesmo Irineu, assumida e reconhecidamente comunista, foi vereador e esteve cotado para vir candidato a prefeito de Juiz de Fora pelo Partido Comunista, em 1947, como informa Wilson de Lima Bastos em seu livro “Na Trilha da Esperança”.

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Como não se lembrar de outros ex-alunos notáveis que lá estudaram? São exemplos: o ex-presidente da República Itamar Franco e os ex-Ministros do Supremo Tribunal Federal Antônio Martins Vilas Boas e Victor Nunes Leal; os escritores Affonso Romano de Sant´Anna e Augusto Frederico Schmidt; os juristas Theotonio Negrão e Paulo Medina; e o ex-jogador e técnico de futebol Evaristo de Macedo.

Ah! E Belmiro Braga, nosso grande poeta, admirado por Drummond, foi inspetor educacional do colégio.
O fim do Granbery gera a angustiante questão sobre o que será feito de seu rico acervo histórico, cuja resposta pode levar a que outras perguntas, próprias do universo da pesquisa histórica e memorialista, continuem a ser feitas.

Quem mesmo estudou no Granbery? Quem mais por lá educou? Quais outros fatos relevantes ocorreram em suas dependências?

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