Nos últimos meses muitos especialistas e entendedores têm dito que é preciso discutir a “saúde mental das pessoas conectadas”. Isso me levou a ler artigos, verificar estudos e escutar alguns pseudo influenciadores horríveis e de mesmices infundadas, mas vá lá, era por uma boa causa.
É preciso entender o “espelho digital e a identidade fragmentada” do que se vê e é projetado em quem passa horas dedilhando telas para cima e para baixo, arrastando para o lado e propagando besteiras e conteúdos que sequer entende patavina. Muitas destas pessoas vivem em completa “solidão conectada e a paradoxal intimidade” com quem jamais conhecerá pessoalmente. Seguidores míopes de cegos conduzindo manadas. Um “ciclo de comparações e pressões digitais” por mundos fantasiosos, receitas milagrosas e saborosas com vestes que caem bem em um corpo, mas é horrível em outros. É preciso desconstruir a ilusão e reconstrução da consciência humana atual.
No vasto cenário das interações humanas, as redes sociais emergem como um palco moderno, onde as complexidades da psique humana se desdobram em uma dança digital. Nesse universo virtual, a saúde mental se entrelaça de maneira intricada com as dinâmicas sociais e os infindáveis fluxos de informação. A filosofia e a psicanálise, instrumentos analíticos milenares, buscam agora desvelar os mistérios que circundam a saúde mental moldada pelas interações virtuais.
Nas redes sociais, cada postagem é como um fragmento da alma exposto ao olhar coletivo. A identidade, antes uma construção multifacetada, torna-se um mosaico de momentos cuidadosamente selecionados para exibição. O “self” virtual, porém, é uma construção efêmera, moldada pelos “likes” e comentários que ecoam nas câmaras digitais. A psicanálise nos alerta para o perigo de uma identidade frágil, que se apoia em validações externas e corre o risco de se perder nos labirintos do ego virtual.
À medida que as conexões virtuais se multiplicam, a solidão paradoxalmente se intensifica. A filosofia contemporânea nos questiona sobre a qualidade dessas conexões, revelando que, por trás dos avatares, há indivíduos buscando autenticidade nas interações superficiais. Será que a hiperconectividade digital é uma ponte para relações profundas, ou apenas uma ilusão de proximidade?
As redes sociais, ao mesmo tempo que conectam, fomentam um incessante ciclo de comparação. A filosofia nos faz refletir sobre a natureza humana de buscar referências externas para a própria valoração, enquanto a psicanálise adverte sobre os efeitos nocivos da constante comparação na autoestima. A busca incessante por padrões inatingíveis pode resultar em uma pressão digital que impacta negativamente a saúde mental, gerando ansiedade, depressão e um sentimento de inadequação.
Diante dessas reflexões, surge a necessidade de desconstruir a ilusão digital que envolve a saúde mental. A filosofia nos convida a repensar o significado da autenticidade e da verdadeira conexão, enquanto a psicanálise propõe uma exploração profunda do inconsciente para compreender as raízes das angústias contemporâneas. Reconstruir a consciência na era digital é um convite à reflexão sobre o equilíbrio entre a vida virtual e a real, entre a busca por validação externa e a construção de uma autoestima sólida e verdadeira.
As redes sociais e interações virtuais exigem uma abordagem que transcenda a superfície digital e mergulhe nas profundezas da condição humana. Somente assim poderemos trilhar o caminho para uma conexão autêntica, onde a saúde mental floresça em harmonia com a essência humana, livre das amarras ilusórias do mundo virtual.
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