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Casa de ferreiro, espeto de pau!

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O turismo está na capa da Tribuna de Minas – e isso é muito bom! Três matérias sobre a atividade turística veiculadas em um fim de semana, em que foram apresentadas propostas (para um futuro próximo) e mostrados os resultados obtidos com o pré-carnaval – mesmo que essa questão seja muito polêmica e divida opiniões. Obviamente, é passível de questionamentos o investimento de R$ 1,5 milhão para promover um único evento, que retorno bastante discutível traz à cidade!

Como profissional de turismo, reconheço que é nobre ver nosso “ramo” sendo discutido e, mais ainda, perceber que há pessoas (no Governo municipal, em entidades e associações, empresários, estudiosos, etc.) trabalhando para que o tema esteja na agenda do município e do jornal – parabéns ao “trade turístico”.

Entretanto me parece incrível que a Universidade Federal de Juiz de Fora, que possui um dos mais importantes cursos de turismo do país, público e gratuito, que procura desenvolver uma visão mais humanista e menos economicista da atividade turística, não tenha sido convidada, através de nossos alunos e professores-pesquisadores, para contribuir com as análises propostas pelas reportagens.

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Uma das matérias fala do incremento da receita de bares e restaurantes, mesmo se no minuto após vem a fiscalização e recolhe mesas, impõe novas regras, coloca em risco a atividade e a empregabilidade de um grande número de pessoas. Devemos sempre lembrar que Juiz de Fora é uma cidade reconhecida pelos seus “serviços”.

Com tanta oferta turística disponível, é leviano pensar que os turistas virão atraídos pelos “lindos olhos azuis da princesinha de Minas”! De que adiantam vários feriados se não houver eventos (não é a cidade do “turismo de eventos”?), atividades e atrativos (em condições de receber o turista, claro)?

Enquanto o turismo for tratado como business e não como manifestação sociocultural, a atividade turística não irá prosperar na cidade. Está passando da hora de ele (o turismo) sair da pasta “economia e desenvolvimento” e ir para a Funalfa! Se o turismo for “pensado e gerido” somente como incremento da economia local, e não como o resultado de um movimento cultural, continuará com seus belos resultados! É só conferir a pesquisa aplicada pela UFJF no primeiro semestre de 2016: 60% dos turistas que vieram à cidade não visitaram atrativos turísticos.

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O que move o turismo (e toda a sua cadeia produtiva) é o bem-estar do turista, a hospitalidade, o imaginário, a segurança, o acesso, a acessibilidade e as novas experiências. Promover turismo somente pensando em retorno financeiro é perigoso, pois reforça a “indústria do turismo”. Devemos nos preocupar para que a atividade turística não seja tratada como a “galinha dos ovos de ouro”! O lucro financeiro deve ser consequência de boas ideias e bons projetos, construídos coletivamente! Quem trabalha com turismo trabalha com o intangível, ou seja, deve atentar-se para “o irreal para compreender o real”.

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