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A violência que dói no bolso

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A violência contra as mulheres é uma chaga no Brasil e no mundo, e é bom que estejamos cada vez mais falando sobre o assunto. Por muito tempo, só a violência física grave era considerada motivo de intervenção, o que podia ocorrer somente depois que essa mulher tivesse vivido muitas outras agressões. Ainda bem, hoje há muita informação sobre violência psicológica, como, por exemplo, no perfil @maselenuncamebateu, que relata, justamente, situações violentas em que ainda não ocorreram agressão física contra a mulher.

Hoje, entretanto, eu convido a refletirmos sobre outro tipo de violência: a patrimonial. Essa violência pode vir fantasiada de cuidado, de proteção e no perfil do homem provedor. Ela é perversa, justamente, porque facilmente pode parecer o simples cumprimento de um papel social, mas não é. Essa violência é perigosa, tira a liberdade das mulheres e, em uma eventual separação, pode colocá-las em situação de terrível vulnerabilidade. A violência patrimonial é, essencialmente, uma disparidade de informações.

Nesses casos, o homem se investe de um poder perigoso porque ele sabe de tudo e a mulher nada sabe sobre a renda e o patrimônio daquela família. Sob a fala sem fundamento de que ele tem melhores condições de administrar as finanças, a mulher deixa de saber quanto a vida da família custa, de onde vem o dinheiro e para onde ele está indo.

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Não se engane: a violência patrimonial acontece com mulheres de todas as classes sociais e em qualquer nível de escolaridade. Normalmente, as intenções parecem sempre nobres.

O caminho para combater a violência patrimonial é o hábito constante e desinibido de perguntar. É preciso buscar e registrar todas as informações sobre a vida financeira da família. Mas não se satisfaça com as respostas – é preciso papéis. Queira ver o documento da casa que vocês compraram – ela está em seu nome também? Em que banco está a nossa poupança? Cadê o extrato dela? Onde está o documento do carro? Quando você terminar a declaração de Imposto de Renda, você me envia a declaração e o recibo? A mulher tem que ter informações qualificadas e os documentos que a coloquem no mesmo patamar de poder sobre o patrimônio familiar, ainda que sua renda não seja a mais alta da casa. Isso não é falta de confiança. Isso é responsabilidade e autopreservação.

É delicado dizer isso porque parece que a violência patrimonial não dói. Mas dói e muito. A violência patrimonial faz a barriga doer de fome e os braços de tanto trabalhar para se reerguer. Dói o coração de ver o filho sem teto.

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Mas perguntar não dói. Se você não tem espaço para fazer perguntas sobre dinheiro na sua casa, procure ajuda e procure já.

 

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