Desde sua implantação, em 2007, os traffic calmings, instalados em diversos trechos do Centro de Juiz de Fora, sempre foram alvo de dúvidas e discussões. Ao longo de todo esse tempo, questionava-se a real diminuição no número de acidentes em virtude desses quebra-molas especiais, a redução da velocidade dos carros, a burocracia para se atravessar uma rua. Tamanha repercussão que o tema virou, inclusive, assunto nas redes sociais e campanhas eleitorais. A remoção de 14 desses instrumentos, iniciada em agosto deste ano, por sua vez, não reduziu a polêmica. Os atropelamentos posteriores, assim como o dinheiro jogado no lixo com a instalação e desinstalação dos mesmos, se tornaram os principais assuntos em destaque.
Comum ao embate presente nas duas situações está o fato de que, tanto na presença quanto na ausência dos traffic calmings, um aspecto não foi evidenciado: a acessibilidade. Se, com as lombadas, os cadeirantes se depararam com verdadeiras rampas inacessíveis, de pisos irregulares para travessia, sem elas, o espaço deu origem a valas. Talvez imperceptíveis aos nossos passos, ao nosso olhar, mas que se somam aos inúmeros obstáculos que Juiz de Fora impõe a quem possui algum tipo de deficiência.
A acessibilidade significa a adoção de atitudes simples, que cabem a todos nós. É o olho no olho, a paciência ao conversar, o gesticular bem as palavras, o abaixar para conversar com um cadeirante ou, simplesmente, o ombro para aquele que precisa de ajuda para atravessar uma rua. É tratar o outro de forma igual, afinal, como bem diz a propaganda, ser diferente é normal. Mas na maioria das vezes esse pensamento é levado tão ao pé da letra que, por comodismo, se torna preferível fechar os olhos, calar a voz, tampar os ouvidos e permanecer imóvel a enxergar, ouvir, dizer e agir para que nossa cidade seja inclusiva e melhor para todos viverem.
Já reparou na quantidade de calçadas destruídas ou com consertos malfeitos, de tampas de bueiros danificadas ou de raízes expostas das árvores do Parque Halfeld? É provável que quem sofreu algum tipo de acidente em decorrência de algum desses inconvenientes nunca mais vai passar por esses lugares com os mesmos olhos, sem prestar o mínimo de atenção. Mas tais problemas atrapalham de forma significativa e perigosa a vida de pessoas com mobilidade reduzida. E, para elas, os problemas não se acabam do lado de fora… É um desafio diário conseguir entrar em inúmeras edificações e ter acesso a serviços de saúde, educação, trabalho, eventos que, em desconformidade com a lei, não oferecem o mínimo de condições para esses cidadãos.
É por isso que a acessibilidade não pode ser apenas tema de discussão. É nossa proposta que ela seja parte integrante – desde o nome – de uma comissão da Câmara Municipal, da qual faço parte, que vem debatendo temas importantes para a nossa cidade: urbanismo, transporte, trânsito e meio ambiente. Se o assunto não foi esgotado – como deveria – no tira/põe traffic calmings, no Legislativo ele vai ganhar a merecida dimensão no Plano de Mobilidade Urbana e junto aos temas que o completam. Mas dentre eles não existe ordem de preferência. Todos são prioritários, urgentes e, acima de tudo, se convergem no que diz respeito à garantia de qualidade de vida. E a palavra acessibilidade só evidencia que esse direito esteja assegurado a todo e qualquer cidadão.