Vivemos em uma cultura cisheteronormativa que impõe, desde o nascimento, que as pessoas devem ser cisgêneras e heterossexuais, pressupondo que o gênero é determinado pela genitália. Porém, gênero é um construção social e não determinada de acordo com genitália ou sexo, como é o caso das pessoas intersexos e pessoas trans. Essa cultura cisheteronormativa se desvela nos pequenos atos do cotidiano e representações simbólicas pela mídia e sociedade, como determinar que azul é cor de menino e rosa cor de menina, que menino deve brincar de carrinho e menina brincar de boneca.
Isso acaba por determinar um mundo único para ser e viver, excluindo outras possibilidades de existência, definindo um padrão de menino/homem e um padrão de menina/mulher que é cisgênero e heterossexual. Neste sentido, pessoas trans acabam por ficar invisibilizadas e marginalizadas por fugirem dessa norma imposta pela sociedade, sofrendo os mais severos níveis de violência e exclusão (transfobia).
A transfobia e cisgeneridade compulsória é o sistema que coloca à margem da sociedade as pessoas trans, determinando que suas vidas sejam apagadas, solitárias, insalubres, precárias e expostas a todos os tipos de riscos e violências, visto que por conta desse sistema, muitas pessoas trans são expulsas de casa e da escola, não acessando educação e nem emprego formal de trabalho, recorrendo, na maioria das vezes, à prostituição para se ter o mínimo de sobrevivência.
Isso acaba por deixá-las expostas à violência, já que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, superando até mesmo os países em que há pena de morte pra pessoas LGBT, como também acaba por deixá-las expostas aos riscos em saúde como doenças sexualmente transmissíveis.
Não é por acaso que o índice de suicídio é maior nesta população quando comparamos com a população geral.
Viver no armário para evitar situações de preconceito pode ser uma saída utilizada por muitas pessoas LGBT, inclusive pessoas trans, mesmo que estas estejam em um número menor, visto que por conta das transformações corporais, vestimentas, cabelo etc. fica difícil esconder suas identidades.
Entretanto, ao fazer isso, pode-se gerar diversas questões psicológicas, como depressão, por se sentirem infelizes e aprisionadas em uma existência que não condiz com sua existência real. Muitas vezes, nestes casos, resultando em suicídios.
Por isso, possibilitar um mundo em que a questão trans seja entendida e aceita com mais naturalidade é, também, uma questão de saúde, cidadania e direitos humanos.
Pessoas não trans, portanto, cisgêneras, podem ajudar e apoiar uma pessoa trans ao se colocarem como aliadas na luta contra a transfobia, favorecendo a discussão, desconstruindo preconceitos, incentivando a contratação de pessoas trans no mercado de trabalho, contribuindo para a qualificação escolar e profissional de pessoas trans através da criação e divulgação de cursos para essa população, bem como reivindicando, junto ao poder público, o atendimento das suas demandas.
Pessoas trans são seres humanos como quaisquer outros e, por isso, precisam ser tratadas como tal. Antes de tudo, a luta das pessoas trans é por humanidade, para provar que elas existem e não são aberrações. Que possamos construir um mundo onde a humanidade abrace todas as formas de existência. Basta de transfobia!