“Ideias para adiar o fim do mundo” é o título de um famoso livro do pensador indígena Ailton Krenak (2019). Nele, o autor nos convida a refletir acerca da relação da humanidade com a natureza e a pensar perspectivas para o futuro. A organização política, econômica e social, sob o pensamento ocidental e o capitalismo, demonstra sinais de fragilidade. O meio ambiente está em grave alerta e, para Krenak, é necessário colocar a cultura em perspectiva.
Se para a sociedade ocidental os desafios climáticos que se impõem pelo modo como vivemos colocam em xeque a nossa organização política, econômica e social, para as sociedades indígenas esta questão está clara desde o início da colonização. Krenak nos chama a atenção para aprender com os povos indígenas a partir do reconhecimento da natureza como sujeito.
Desde 2015, com a aprovação do compromisso da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a Unesco vem enfatizando o papel transversal da cultura nas políticas públicas. No âmbito nacional, o Ministério da Cultura tem reforçado este entendimento.
O Brasil ocupa, pela primeira vez, a presidência do G20, grupo de articulação multilateral, tendo a oportunidade de oferecer o tom das discussões, e uma das agendas definidas como estratégicas foi inserir a discussão da cultura como eixo transversal. A inserção da pauta tem como objetivo pensar formas mais inclusivas e sustentáveis de relações políticas, econômicas e sociais.
De acordo com a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, a cultura deve ser vista como indissociável “a questões como sustentabilidade, cooperação Sul-Sul, inclusão social, diversidade, cidadania, direitos humanos, economias criativas, preservação do meio ambiente, dentre muitos outros”. Com essa visão estratégica da cultura, durante a 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, Margareth Menezes lançou uma iniciativa de coalizão internacional (o Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura), para colocar a cultura como assunto central nas negociações climáticas.
Para a ministra, a cultura deve ser vista como uma força única e poderosa no combate às mudanças climáticas. De acordo com informações na página do MinC, “essa iniciativa visa integrar ativamente os valores culturais, práticas tradicionais e conhecimentos indígenas na estrutura das políticas climáticas, ampliando a compreensão sobre como a cultura desempenha um papel crucial na adaptação e mitigação das mudanças climáticas”.
Priorizar a diversidade cultural como eixo estratégico de discussões econômicas e climáticas é admitir que não há um modelo único de futuro e que soluções criativas podem ser imaginadas. Trata-se de uma oportunidade, aberta ao diálogo, para acolher formas mais inclusivas e sustentáveis de viver – uma ideia para adiar o fim do mundo.
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