O tema do mês da Bíblia deste ano é o livro de Ezequiel. Não é fácil de ler, porque as visões nele relatadas usam símbolos estranhos aos olhos contemporâneos, mas é um livro fundamental para se entender a tradição judaico-cristã. Ao fazer aqui uma apresentação desse profeta, desejamos convidar o leitor ou leitora a estudá-lo, de preferência, em grupo.
É um livro escrito no contexto do exílio do povo de Israel na Babilônia, situação de humilhação e sofrimento para um povo que acreditava ser o escolhido por Deus e herdeiro da terra. Iniciado no ano 597 AEC (Antes da Era Cristã) e reforçado dez anos mais tarde, o exílio provocou a desordem política, religiosa e cultural daquele povo, agora sem rei, sem templo e sem território. Em meio a esses desastres, Ezequiel, nascido numa família sacerdotal, se torna profeta em meio ao povo exilado na Babilônia.
Ele narra sua vocação profética por meio de uma visão: deve comer um livro em forma de rolo com a Palavra de Deus. Na boca ela é “doce como mel”, mas, ao ser proferida, ela será rejeitada pelo povo, fazendo com que Ezequiel se sinta como cercado de espinhos e escorpiões. E é assim que ele assume a função de sentinela, com a obrigação de alertar o povo para os perigos que corre, mesmo sabendo que é um povo teimoso, que não se corrige e que vai zombar dele. Esta é, também em nossos dias, a cruz da profecia!
São muitas as mensagens do livro de Ezequiel. Aqui apontamos a primeira e a última delas.
Em sua primeira visão, Ezequiel vê a glória – isto é a força, ou poder – de Deus deixar o Templo de Jerusalém e mover-se até a região da Babilônia onde está seu povo. Essa mensagem rompe radicalmente com a tradição judaica, que acreditava estar a glória de Deus na Arca da Aliança, primeiramente na tenda e depois no templo. Agora, Deus também vai para o exílio, junto com seu povo. Assim, Ezequiel retoma a mensagem central do livro do Êxodo: “Vocês serão meu povo e Eu serei o seu Deus”. Deus faz aliança com o povo chamado a ser Seu sinal para os outros povos da Terra.
Em sua última visão, Ezequiel vê o templo reconstruído e a Glória de Deus retornando a ele. É então levado a percorrer o trajeto de uma fonte de água que brota do templo e cresce até tornar-se um rio caudaloso, que traz vida em abundância a todo lugar aonde chega: “em suas margens crescerá toda espécie de árvores frutíferas, cujas folhas não cairão e cujos frutos jamais terminarão. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas como remédio.” (Ez 47, 9-12).
Essa figura do templo como fonte de vida plena para a Terra, regando-a com uma água pura que faz a terra produzir alimentos e remédios em abundância, é para nós uma mensagem de esperança e consolação diante das desgraças que começamos a viver nessa era de desastres climáticos. Mas é também uma interpelação à Igreja, para cuidar do Povo de Deus exilado na atual Babilônia: um mundo controlado por uma minoria de super-ricos que se sentem no direito de impor sua lei a todos os povos, submetendo-os a modernas formas de escravidão.
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