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Chá das cinco

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Li em um grande jornal de circulação nacional, em um sábado de manhã de um dia um pouco fechado e frio, com pouco movimento das crianças nas ruas, que mulheres e homens de 30 a 75 anos se reúnem (pode ser em cafés, pousadas, casas de amigos) para falarem – adivinhem o quê? – sobre a morte. Imaginem, se além do terço rezado por homens no Parque Halfeld, nos reuníssemos também para falarmos dela, a morte. Seria muito interessante e, por mais contraditório que possa parecer, daria mais vida ao Centro da cidade.

Achei esta matéria do jornal superinteressante e, claro, me pegou de jeito. Não sei se é por, no meu dia a dia, trabalhar com a velhice – e o tema da finitude está sempre presente – ou se é mesmo por ter em mim as reflexões sobre o meu fim, em todos os dias. Quer saber?, são as duas coisas: porque vou morrer que me entrego ao trabalho com quem vive muito! Não tenho, sinceramente, medo da morte, tenho medo de ficar sozinho, de não ser cuidado, esse é o meu maior medo, o do abandono e o do fim da comunicação.

No jornal, diz que esta organização mundial, denominada “Death Cafe”, tem na cidade de São Paulo o seu primeiro representante no Brasil. São os “cafés da morte”. Em vez de falarmos sobre mulheres, homens, futebol e política, falaríamos, de acordo com o modelo do sociólogo e antropólogo suíço Bernard Crettaz, sobre a morte. A ideia dele é espalhar pelo mundo afora espaços humanos e sociais de encontros para conversarmos sobre o nosso fim. Segundo o pesquisador suíço, qualquer pessoa pode abrir um em sua cidade, ou seja, organizar um grupo de discussão sem agenda específica, utilizando o nome, a metodologia e os meios de divulgação da franquia. Mas não pode se configurar como uma atividade lucrativa, para “vender ideias”, e nem ser espaço de terapia.

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Parênteses: tem lugares na cidade que já estão mortos. Quer ver um lugar que eu acho que deveria ter vida e não tem? Algumas academias de ginástica. É um entra e sai de gente mal-humorada, que é o fim social! Outro lugar? No trânsito, esse está na cara… Tem mais, é só pesquisar. Precisamos viver mais a nossa cidade, sem mortes, de preferência.

Voltando aos “cafés da morte” da matéria do jornal, coube à economista Elca Rubinstein, que trabalhou 18 anos no Banco Mundial, em Washington, trazer esta ideia, ou programa de vida, para o Brasil, mais detalhadamente, em dezembro de 2014. Fico pensando: onde em Juiz de Fora que poderíamos criar os cafés com a finalidade de falarmos sobre a morte? Temos os cafés filosóficos, é, temos sim.

Penso em algo mais aberto, composto por público de gente sem letras para poder participar. Gente que quer ser ouvida. Gente que não tem como pagar os profissionais da escuta humana. Gosto muito de café. E esse da morte cai bem. Eu topo. E você?

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