Lembro-me dos tradicionais auditórios em homenagem às mães nos meus tempos de Grupo Escolar. Todos se emocionavam. As professoras preparavam com cuidado as apresentações da criançada. Não podia faltar a canção “eu te lembro o chinelo na mão/avental todo sujo de ovo”. Chinelo simboliza o cuidar, e o avental, a alegria em servir e fazer a receita predileta do filho, temperada com amor e alegria.
As chineladas, apesar de doerem, eram pétalas de rosas com a finalidade de nos conduzir para o caminho do bem, da honestidade e da responsabilidade.
Penso que ser mãe não é padecer num paraíso. Mãe não padece. Sofre com a dor, os problemas e as dificuldades dos filhos. Sofre quando seus filhos trilham o caminho do mal, estando sempre com os braços abertos para os acolherem. E se alegram quando são felizes e, dentro do possível, lhes dão netinhos.
Ser mãe é ter a consciência da responsabilidade de criar um futuro cidadão consciente do seu dever para com a sociedade. É saber que um dia seus filhos irão bater asas e voar, às vezes, para bem longe. Asas que elas fortaleceram com “chinelo na mão” mesmo sabendo que o voo pode ser para bem longe. Esta é a função social das mães. Guerreiras que passam a noite em claro com os olhos pesados de sono até que a febre do seu filho acabe, a tosse acalme e, se necessário, ao amanhecer levá-lo ao médico. Muitas não podem levar.
Penso nas mães que sofrem diante da fome dos filhos, restando apenas abraçá-los e chorarem em silêncio.
O Dia das Mães tem que ser um evento que abra os olhos dos governantes – que deveriam ler Quarto de Despejo, da nossa poetisa favelada Carolina Maria de Jesus – e da sociedade para oferecerem a essas corajosas mulheres condições dignas, que lhes permitam criarem seus filhos com dignidade, cumprindo sua sagrada missão.
Para vocês, mamães, meu respeito, minha admiração e meu carinho.
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