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Um mártir juiz-forano

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A tradição cristã festeja os santos e santas no dia da sua morte, por ser este o momento em que o sentido de sua vida revela-se plenamente. Isso se aplica ainda com mais força quando se trata de mártires: quem doa sua vida pela causa do Reino de Deus. Neste 12 de outubro vamos festejar um mártir nascido em Juiz de Fora: o Pe. João Bosco Penido Burnier, S.J.

Irmão do Pe. Vicente Burnier – que permaneceu aqui e, apesar da surdez tornou-se sacerdote, atuando na Pastoral dos Surdos – João Bosco estudou na Universidade Gregoriana de Roma e foi ordenado sacerdote em 1946. Voltou para o Brasil em 1954, como vice-provincial da nossa região, e participou da fundação do Colégio dos Jesuítas de Juiz de Fora. Formado antes do Concílio Vaticano II, numa Teologia que rejeitava a Modernidade, Pe. João Bosco assumiu a renovação pastoral da Igreja, mas conservava certos elementos do passado, como o modo de se vestir: se não usasse a batina, vestia roupa preta.

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Muita coisa mudou quando foi transferido para Diamantino (MT), para atuar como missionário junto aos Povos Beiços-de-pau, Bakairi, Merure e Bororo. Ao assumir a causa indígena, assumiu também a causa dos posseiros e peões que lutavam pela posse da terra. Convidado a compor a coordenação regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Pe. J. Bosco participou de uma reunião na Prelazia de São Félix do Araguaia, onde prolongou sua estadia para estar com o bispo Pedro Casaldáliga, então acusado pelos militares de atividades contrárias ao regime.

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Enquanto preparavam a festa de N. Sra. Aparecida em Ribeirão Bonito, atual município de Ribeirão Cascalheira, Dom Pedro foi chamado para interceder por três mulheres que estavam sendo torturadas na delegacia. Pe. João Bosco o acompanhou e ainda de longe podiam ouvir os gemidos de dor das mulheres. Chegando à delegacia, Pe. Burnier dirigiu-se a um dos soldados, dizendo que denunciaria a tortura às autoridades se ela não terminasse naquele momento. Não conhecendo o bispo, aquele policial pensava que fosse o homem alto, em trajes eclesiásticos, e não aquele que usava sandálias de dedo… Deu-lhe uma bofetada e desferiu um tiro de revólver. Gravemente ferido, o religioso não resistiu e faleceu na madrugada do dia seguinte, tendo sido enterrado no cemitério dos Jesuítas, em Diamantino.

Depois da sua morte, o povo invadiu a delegacia, soltou os presos, destruiu e incendiou o prédio, e ergueu uma capela que até hoje é visitada especialmente por ocasião da Romaria dos Mártires da Caminhada, realizadas a cada 4 anos desde 1986. Nas palavras do bispo Casaldáliga “uma igreja que não guarda a memória viva de seus mártires não tem direito a sobreviver”.

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Como parte dessa Igreja da cidade onde nasceu o Pe. João Bosco Burnier, não podemos deixar que seu martírio caia no esquecimento. A memória de sua defesa da vida das mulheres torturadas precisa ser celebrada, para que esse martírio seja fonte de motivação para a missão evangelizadora da nossa Igreja.

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