Houve um tempo que para o cristão eram apontados dois caminhos. Um a vida monástica sob o jugo das penitências dolorosas onde buscava-se agradar e cumprir os desígnios de Deus. O outro destino era determinado aos mais audaciosos e imediatistas. Estes constituíam os grandes exércitos, caçadores e executores dos diferentes, os tidos como infiéis, hereges, bruxas ou satânicos. “Em nome de Deus”, urravam os justiceiros antes da consumação do ato violento.
A humanidade petrificou suas emoções mais sublimes na fúria da supremacia do “eu”. Em defesa de uma suposta, tênue e passageira verdade, imposta pela violência nos vários matizes, às custas de muitas dores e sofrimentos que resultaram em revoltas e novas violências que avolumam os livros de história.
Como disse o antigo pensador: a história da humanidade é a autobiografia de um louco.
Tendo em vista essa trágica narrativa, perguntamos: o que significa aos olhos do espiritismo viver cristãmente? A existência humana, sob a luz do Cristianismo revivido na Doutrina Espírita, tem por objetivo a transcendência, que é o mesmo que dizer que nascemos para superar as falhas humanas em cada século da respectiva existência.
Do berço ao túmulo nas curtas jornadas das vidas ou reencarnações, passamos e sofremos experiências, que por mais agressivas e dolorosas nos sejam, estas incontestavelmente contribuirão de modo positivo para o engrandecimento moral, por conseguinte espiritual daquele que enfrentou e não se deixou abater por tamanho desafio. Assim como nascemos crianças, crescemos, aprendemos a nos comunicar, falar, perceber o mundo à nossa volta e amadurecemos até a velhice; o mesmo se dá com as forças espirituais que nos movimentam, a capacidade de superar as circunstâncias, transcender e elevar-se acima da condição em que se nasce, vive e cresce.
Agir cristãmente é não humilhar aquele que se encontra em condição socialmente inferior, é respeitar o que se apresenta em desconformidade aos conceitos estabelecidos, é aceitar sem repulsa aquele que tem pensamento dissonante ao vigente, é não condenar os que estão em posição de destaque na política e na administração pública, dizendo que “…se estivesse em seu lugar faria melhor”. Talvez sim, talvez não, enquanto não pomos em ação nossas mais íntimas emoções, não temos certeza do que somos capazes.
Assim sendo, viver cristãmente é desculpar sempre, porque não conhecemos as circunstâncias que pesam sobre os ombros alheios. Por isso o Cristo ensina: perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes, para viver cristãmente. Eis a grande questão.