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Entre o choro e o chope

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A vigorosa Greve Geral da sexta-feira (28/04) deu mostras da resistência da sociedade à política de desmanche do Estado do governo golpista. Sem a mediação estatal, os conflitos de interesse serão mediados pela polícia e a lei tornar-se-á inócua. As garantias individuais irão por água abaixo. Enfim, a guerra de todos contra todos, com o aparato policial ao lado do capital contra a maioria da população civil trabalhando em condições precarizadas.

Aqui na cidade, uma deliciosa feijoada, executada por mãos habilidosas, servida no domingo (30/04), em comemoração aos 60 anos do Bar do Futrica, com a Galeria Hallack lotada, ao som de chorinho, tirado por um grupo de músicos tarimbados, regada a chopinho, tirado por mãos treinadas, cachaça, cerveja, conversa, indicava um contraponto à violência. Inspirado pelo clima de confraternização, fui assistir ao “nosso” clássico mais colorido, não sem antes, saindo pela Marechal desabitada, avistar a silhueta do outrora Bar Dia e Noite, que nomeia o prédio de gosto art-déco no Largo 13 de Maio, abrindo as portas da memória para exibir, na parede, escudos do Fla x Flu, então, ladeados.

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Nostalgia, saudade, qual sensação não sei dizer. Por sugestão da companheira, enveredamos pelas partes baixas do Centro, tentando reaver um itinerário impossível, pois esvaziado, por exemplo, da “mezcla” que ligava a urbanidade de quem ia e vinha. Como no ônibus da expressão conhecida, virou tudo passageiro fantasmagórico na trilha do abandono e degradação.
O futebol atualizou ainda mais a realidade de um país esfacelado. Impossível não chorar, para quem assistiu, de corpo presente, à morte do melhor futebol do mundo e não recalcar contrariedade diante do esquemático jogo aprendido, como se pudesse, nas escolinhas. Rigorosamente, o gol rubro-negro foi providenciado por uma furada do beque tricolor. Pelo mostruário, o empate faria jus ao sumiço literal da técnica, do drible, do gênio, etc.

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A briga com a bola dentro de campo tornou-se um emblema dos embates fora dele. A realidade física da cidade exibe o esfacelamento. O Palacete Fellet é alegoria de uma profecia macabra. A desumana confinação da periferia alardeia a violência estruturante da cidadania descuidada.

Para completar, durante a semana, o Governo do Estado lança no colo da população mais ameaçada um incerto e imperativo eufemismo: “Fique Vivo!”, jogando a responsabilidade estatal pelo descaminho social no colo da juventude vitimada pelo fracassado projeto nacional. Não é isso que vai tirar a situação municipal da UTI da urbanidade, agravada com a truculenta colaboração do Governo Federal e do Congresso. A alternativa para a sociedade é a continuidade da luta radical de transformação da cidadania, habitat natural dos direitos. Com direito a chopes e choros outros.

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