Na semana que passou, Lula começou a cumprir uma de suas promessas de campanha e surpreendeu muita gente, inclusive membros de sua equipe, com a decisão de suspender a privatização de várias empresas, como os Correios. O processo de estatização da economia brasileira começou no primeiro período da era Vargas, quando, diante da incapacidade da economia privada em realizar altos investimentos de longa maturação, o governo passou a investir na indústria de base, criando assim suporte para investimentos em outros setores.
O processo começou com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, em 1940. Ainda na década de 40, surgiu a Companhia Vale do Rio Doce e até a Fábrica Nacional de Motores. Quem se lembra dos caminhões FNM – os Fênemes?
Não se pode negar a importância do processo de estatização para o desenvolvimento da economia num país sem capital privado e sem capacidade de captar recursos externos num mundo destroçado pela Segunda Guerra. Foi com recursos públicos que desenvolvemos a Petrobras, as usinas hidrelétricas, o setor de mineração e tantas outras atividades consideradas estratégicas e de segurança nacional. Mas o tempo cuidou de mostrar a incapacidade do Estado de gerir. Criar estatais virou mania. Muitas estatais foram criadas para atender interesses que não eram bem do Estado brasileiro.
As estatais, em muitos casos, passaram a custar caro ao Estado, que teve que se endividar para mantê-las. Mesmo deficitárias, passaram a ser cabides de emprego, criando uma casta de servidores de altos salários e benefícios outros, inclusive estabilidade. Desvirtuaram as estatais, que, por outro lado, passaram a ser alvo de cobiça de grupos privados, forçando assim o início do processo de desestatização, que acabou se mostrando acertado.
São muitos os exemplos de sucesso da venda de estatais. Um deles é a nossa Usiminas. Para boa parcela da população, como mostra pesquisa do DataFolha, os serviços desestatizaram e ganharam qualidade, embora, não raras vezes, aumentaram seus preços, antes contidos pela interferência estatal que arcava com os prejuízos, sacrificando investimentos em saúde e educação.
É isto que o Governo Lula está deixando de considerar ao suspender as privatizações para atender grupos de apoiadores. Enquanto Lula insiste em manter um discurso antiquado de presença direta do Estado na economia, inclusive em setores onde a iniciativa privada já demonstrou mais eficiência, alguns governadores, como o de Minas, Romeu Zema, inclusive, avançam em programas de desestatizações e concessões para melhorar e, em muitos casos, implantar serviços essenciais à população.