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A revolução dos tupiniquins

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Sim, o título é uma alusão ao quase octogenário texto de George Orwell: “A Revolução dos Bichos”. A crítica do escritor referia-se às transformações de um ideal de liberdade e igualdade em uma nova forma de dominação, novamente, de uma minoria sobre a maioria. O contexto à época era o acúmulo de contradições do regime socialista soviético aos princípios que motivaram a revolução de 1917, na Rússia. A crônica se passa numa fazenda inglesa em que os bichos se rebelaram e expulsaram o proprietário humano que os explorava e os maltratava. O manifesto do Animalismo continha basicamente a equidade entre as espécies de animais e afastava a forma de relacionamento e dominação dos humanos. Para reverberar emoção à causa cunharam o lema: “4 pernas bom, 2 pernas ruim”. Não obstante, mesmo nessa plenitude da igualdade, um camarada se autoproclamou líder, o comandante porco Napoleão, que se legitimou por ações sorrateiras contra seus antagonistas.

Neste século, o que depreendemos daquela reflexão são as recorrentes tormentas do modelo despótico ou ditatorial que visa castrar a liberdade individual, a impor padrões de costumes e esmorecer o equilíbrio do progresso social e econômico. Esse modelo se pauta pela superficialidade de suas ideias, pela redução do debate, da intolerância ao contraditório e, no limite extremo, se manifesta pelo uso da repressão. Por isso, a “revolução dos tupiniquins” é uma ilação que resgata elementos tratados por Orwell ao Brasil contemporâneo. Tipifico as três principais características: a manipulação, a coerção e a alienação.

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A manipulação ocorria pela divulgação de informações falsas do porco Napoleão aos demais animais. Os objetivos eram ocultar fatos ruins e/ou encontrar um “bode expiatório” para isentá-lo da responsabilidade, eufemizar suas medidas incoerentes de governo e manter a trupe de animais aderida aos compromissos da rebelião, mas sob sua incontestável e mitológica liderança. Atualmente, o que chamamos de fake news tem o mesmo condão.

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A coerção era imposta aos questionamentos de alguns animais àquelas medidas de governo que conspiravam contra os princípios do Animalismo. Era exercida pelos cães de guarda do comandante Napoleão que calavam ou massacravam os insurgentes. Atualmente, a coerção se faz pela manifestação de intolerância a qualquer tipo de contraditório de conteúdo ou pensamento divergente, principalmente progressista, e pelas invectivas infundadas às instituições democráticas, objetivando criar um ambiente de desconfiança e beligerância na sociedade.

Por fim, a alienação dos animais representa a grande derrota dos ideais de equidade. Sem a capacidade do pensamento crítico e reflexivo, os animais tornaram-se vulneráveis às manipulações e simplesmente sucumbiram ao efeito doutrinário do antigo camarada Napoleão, que se tornou um déspota. Aqui, quiçá, o principal ponto de atenção para os próximos meses. Seria fundamental que dedicássemos algum tempo para joeirar o que receberemos das campanhas eleitorais. O clássico “eles contra nós”, ou melhor, “4 pernas bom, 2 pernas ruim”, virá, mesmo que subliminarmente, de ambos os extremos. Porém será que conseguiremos com racionalidade e fraternidade encontrar uma alternativa alvissareira para nossa nação? Perfilar colunas, participar de passeatas – motorizadas ou não – ou qualquer evento de aglomeração é exercício legítimo de liberdade, mas tem um efeito colateral: afasta o indivíduo das reflexões e o coloca sob jugo da doutrinação, tornando-o tão vulnerável como os animais do conto de Orwell. Aliás, esses são instrumentos desejados por aqueles que nos querem alienados.

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