O ser humano ama ser protagonista. Quer agir, fazer e construir. Deseja afirmar-se pelas coisas que consegue realizar. De fato, somos incompletos e precisamos mover-nos para satisfazer às nossas necessidades e para construir o nosso próprio ser, que é abertura. Daí o lugar e o valor do trabalho e das realizações.
No entanto, as necessidades do ser humano não são de uma única dimensão. Temos diversas necessidades, de caráter muito variado: físico-biológico, psicológico, social… e espiritual. A dimensão espiritual, sem negar as demais, é a mais profunda. Temos sede do Absoluto, da plenitude imperecível, do amor sem sombra de traição, da justiça perfeita e da misericórdia que salva. Queremos ser acolhidos e compreendidos por um coração que realmente conhece e ama. Queremos exercer o amor sem que nossos limites nos atrapalhem.
Quem pode salvar-nos definitivamente? Quem pode introduzir-nos na vida verdadeira? Aqui entra, inapelavelmente, a questão de Deus. Deus é amor e providência. Acreditamos? No fundo, o nosso coração está sempre solicitando um ato de confiança no Ser, mas nem sempre lhe damos atenção.
Se o ser humano quer a verdadeira vida, feita da experiência de ser incondicionalmente amado e de poder amar, por que muitas vezes escolhe vias que o afastam da felicidade? Por que queremos só acumular? Por que não nos unimos com todas as nossas forças para dar condições mínimas de vida e dignidade a seres humanos feridos pela pobreza e miséria? Por que deixamos que o poder do dinheiro nos use, ao invés de usá-lo para fins autenticamente humanos, amorosos e espirituais? Por que invertemos tudo?
Talvez a resposta esteja numa questão de prioridade. Como se notou no início deste texto, o ser humano ama ser ativo. Sem deixar de ser ativo, ele não deveria dar prioridade à dimensão passiva da vida, aquela pela qual ele pode receber da plenitude do Ser, que é sempre Luz e Amor? É recebendo da Fonte inesgotável que o nosso espírito se engrandece. É sendo tocados pelo Eterno que podemos fazer coisas boas no tempo e na história. Na nossa passividade diante do Absoluto encontra-se a mais alta atividade de que somos capazes!