A indignação dos brasileiros com a política ficou explícita nas eleições do último domingo. Os eleitores demonstraram sua insatisfação rejeitando as opções apresentadas nas campanhas municipais deste ano. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os votos nulos, brancos e abstenções superaram os primeiros e segundos colocados nas eleições para prefeito em 22 capitais. Em dez das maiores cidades, como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, a soma dos votos nulos, brancos e abstenções foi maior que a votação dos primeiros classificados.
Esses números são uma demonstração inquestionável de como a corrupção, a irresponsabilidade administrativa e o despreparo dos políticos afetam nossa democracia. O desinteresse da população brasileira nos assuntos políticos não é simplesmente uma alienação voluntária, na qual o indivíduo abre mão de suas responsabilidades civis e coletivas. É, em grande medida, uma manifestação de que o cidadão não se sente representado. A abstenção média em todo o país foi de quase 18%. No Rio de Janeiro, capital com o maior índice de ausências, esse número chegou a 24,28%. Belo Horizonte, onde 21,66% dos eleitores deixaram de ir às urnas, ficou em quarto lugar, atrás de Porto Alegre (22,51%) e São Paulo (21,84%).
Os votos desperdiçados nas eleições devem ser vistos como um grito de protesto contra o atual sistema político. Revelam milhões de brasileiros absolutamente descontentes com as pessoas e as instituições que conduzem as questões de interesse público. Sinalizam que, para melhorar a qualidade da nossa democracia, com maior participação e interesse popular, temos que elevar o nível do debate e, principalmente, da ação política.
As urnas deram uma lição à classe política e indicaram um sinal amarelo para as eleições que ocorrerão dentro de dois anos, quando estarão em disputa outros cargos importantes no país. Precisamos ouvir o recado dos brasileiros, que clamam por representantes comprometidos com a ética e com o crescimento do Brasil. Somente assim evitaremos que a desilusão seja novamente a verdadeira campeã nas eleições de 2018.