Há dez anos, Francisco era eleito Papa. O que isso significa à luz da fé? Significa a subsistência de uma graça ministerial específica que Cristo estabeleceu na Igreja para o cumprimento de sua missão salvífica. Herdeiro da missão do apóstolo Pedro, que foi escolhido por Cristo para apascentar as ovelhas do rebanho (João 21,17), o Papa Francisco é de fato, como sucessor de Pedro, “o princípio e o fundamento perpétuo e visível da unidade, não só dos bispos mas também da multidão dos fiéis” (Concílio Vaticano II: LG nº 23).
Já nas primeiras comunidades cristãs, como mais tarde em toda a Igreja, a imagem de Pedro permaneceu fixada como aquela do apóstolo que, apesar da sua debilidade humana, foi constituído expressamente por Cristo no primeiro lugar entre os Doze Apóstolos e chamado a exercer na Igreja uma própria e específica função. Ele é a rocha sobre a qual Cristo edificará a sua Igreja (Mateus 16,18); é aquele que, uma vez convertido, não vacilará na fé e confirmará os irmãos (Lucas 22,32); é, por fim, o Pastor que guiará a inteira comunidade dos discípulos do Senhor (João 21,15-17).
Portanto, confiar no Papa Francisco significa confiar na assistência do Espírito Santo que governa a Igreja. Pelo caráter supremo do poder papal, não há instância alguma a que o Romano Pontífice deva responder juridicamente a respeito do exercício do dom recebido: Prima sedes a nemine iudicatur = “A Sé Primeira não é julgada por ninguém” (Código de Direito Canônico, cânon 1404).
Todavia, isto não significa que o Papa tenha um poder absoluto. O Papa está, como todos os fiéis, submetido à Palavra de Deus, à fé católica. Ele não decide segundo o próprio arbítrio, mas dá voz à vontade do Senhor, que fala ao homem na Escritura vivida e interpretada pela tradição. O sucessor de Pedro é a rocha que, contra a arbitrariedade e o conformismo, garante uma rigorosa fidelidade à Palavra de Deus: daí resulta também o caráter martirológico do seu primado. A autoridade do Papa exerce-se no serviço da verdade, da unidade e da caridade, e por isso o Papa é chamado de “servus servorum Dei”, isto é, “servo dos servos de Deus”, dizia o Papa São Gregório Magno (540-604).
Sabemos que ao longo desses dez anos de pontificado, o nosso querido Papa Francisco foi amado e, por outro lado, às vezes rejeitado. Um papa também não pode esperar só aplausos, porque a Igreja também é, à semelhança do seu divino fundador, “objeto de contradição” (Lucas 2,34). Certa vez, o Papa Bento XVI disse assim: “Quando um papa sempre recebe aplausos, ele precisa se perguntar se fez algo de errado. Pois neste mundo a mensagem de Cristo é um escândalo, iniciado com o próprio Cristo. Sempre haverá contradição, e o Papa sempre será sinal de contradição” (Bento XVI : “O último testamento”, página 47).
Penso que devemos todos agradecer a benevolência do Papa Francisco. Suas constantes reflexões sobre a misericórdia divina atraem as pessoas para Jesus Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida (João 14,6). Podemos sentir que Francisco compreende bem aquelas seguintes palavras abençoadas do memorável Papa São Paulo VI: “Não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas. Mas, isso deve andar sempre acompanhado também de paciência e de bondade, de que o mesmo Senhor deu o exemplo, ao tratar com os homens. Tendo vindo para salvar e não para julgar (João 3,17), Ele foi intransigente com o mal, mas misericordioso para com os homens” (São Paulo VI: Encíclica Humanae vitae nº 29)