Antes de tudo, é bom lembrar que este novo vírus é grave e com um enorme impacto no âmbito social. Empresas como a British Airways e a Lufthansa anunciaram que suspenderiam todos seus voos para a China continental, no dia 29 de janeiro, causando, também, preocupação em todo o mundo e dor para as famílias atingidas. A necessidade de controle da situação é imprescindível.
Mormente, é mais que fundamental rememorar que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, de acordo com o Observatório da Complexidade Econômica (OEC), sendo que tudo que acontece lá tem efeito direto ou indireto sobre o nosso país. Com o novo coronavírus, 2019-nCoV, não é diferente; a projeção de crescimento chinês vai sofrer um grave impacto, e o mercado financeiro ressoará isso. É o país que mais importa artigos relacionados à agricultura (soja) e aos recursos minerais (minério de ferro e petróleo), somando uma incrível porcentagem de 82% das exportações totais apenas com esses três artigos, segundo dados de 2017.
Acaba sendo triste e devastador, em todos os sentidos, ver a tragédia humana da doença, que, até dia 5 de fevereiro, tinha matado 491 pessoas. Mas ainda tão importante quanto, mostra o problema da dependência de um país, exclusivamente, de uma matriz econômica dependente de commodities. Em suma, duas coisas precisam ser combatidas: o coronavírus e a matriz econômica exportadora atual, já que ela representa a contramão de um país que poderia aproveitar as oportunidades que a atualidade oferece e investir em modernização, indústrias etc. Algo difícil, já que a nossa história não deixa negar que sempre tivemos a economia voltada para o setor primário, vide os ciclos econômicos açucareiros, auríferos e cafeeiro. Não obstante ser uma tarefa difícil, não é impossível.
O ciclo do açúcar começou com o fim do extrativismo da cana e terminou após a crise da concorrência com o açúcar das Antilhas e com o açúcar de beterraba do leste europeu; a mineração foi uma atividade que começou no final do século XVII e durou até um pouco mais da metade do século XVIII, sendo seguida pelo ciclo do café, que durou até a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Quando a elite paulista do café percebeu que deveria investir em outros produtos, começando, assim, a jornada rumo à era nacional-desenvolvimentista da indústria de base varguista e a de Juscelino Kubitschek, este expandiu o sistema rodoviário, construindo estradas por todo o país (Washington Luís nenhum coloca defeito!).
Todos esses ciclos são muito bem explicados no livro “A Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado, o primeiro ministro do planejamento do país no Governo João Goulart quando o cargo foi instituído. Entretanto não é sobre começo e fim de ciclos que devemos pensar. Eles foram exemplos que usei para evidenciar a necessidade da diversificação da matriz econômica da nação, levando ideias modernizadoras que tantos estadistas do século XX tiveram, mas que, ou por um lobby forte ou por força das grandes corporações, não conseguiram prosperar em sua plenitude.
Agora, no século XXI, cenários de epidemias globais evidenciam a fragilidade de uma economia que está sendo “reprimarizada”, representando as bases de uma casa construída sobre um barranco, esperando a primeira chuva a levar abaixo.