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Envelhecer não é adoecer

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No trabalho social com as pessoas idosas da cidade, desde 1988, reconheço que eu também estou envelhecendo. Meu desempenho, por exemplo, no futebol semanal, de toda quarta-feira, já não é o mesmo. Menos correria e mais passes certos. Agora, o que vale mesmo é a resenha, pós-chuveiro, para o encontro na mesa com os colegas que nunca acaba.

Não só no esporte/no futebol que percebo o meu envelhecimento. Em outras áreas também, principalmente no campo emocional. Vejo com mais proximidade e cotidianamente a passagem do tempo. Na minha vida e na de outras pessoas. Avisto, em breve tempo, o momento de minha aposentadoria do serviço público municipal. E, com essa nova realidade, (re)planejo minhas metas e o modo de estar na cena social.

Percebo e leio diariamente nos jornais, vejo na TV e ouço no rádio o que acontece em nossa Juiz de Fora, em nosso estado e em nosso país. Na política, o quadro é desalentador. Mas eu tenho muita esperança em dias melhores e acredito firmemente que é pelo caminho da participação política que a gente transforma o mundo e as pessoas.

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Entristece-me reconhecer, no dia a dia, como a nossa vida vale pouco. Estamos por um triz. A expressão de ódio covarde de algumas pessoas nas redes sociais sobre as nossas relações sociais remonta a tempos de barbárie, revigorada em pleno século XXI. Estamos nos desumanizando. Estamos mortos em pleno sol de meio-dia. Como nossos rios, estamos sem oxigênio para amar. Viver tem se tornado muito difícil. Conviver está pior.

Mas eu não desisto. Quero envelhecer. Quero cultivar cada vez mais a amizade e as relações familiares saudáveis. Esses são desejos de que não abro mão nunca. Nesse tempo presente de falta de amor, regular as relações humanas é um grande absurdo, é uma grande violência. No amor e para o amor não há capítulos e incisos a seguir.

Amar, pelo contrário da sentença judicial de Brasília, sara toda e qualquer ferida humana, independentemente de gênero. E assim devemos caminhar, penso eu, para o nosso envelhecimento, na construção de vínculos amorosos e afetivos. Na perspectiva de uma velhice acompanhada, livre e feliz. Envelhecer não é adoecer, senhor juiz!

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Mais um Dia Internacional do Idoso presente no calendário temático de eventos. Mais uma oportunidade ou mais uma nova chance de refletirmos sobre essa nova etapa de nossa vida, que é o envelhecimento, que necessariamente não deve ser visto como o pior estágio do lugar humano. Perdas e ganhos há em todas as estações de nossa vida. O que nos salva mesmo é a compaixão, a solidariedade, a generosidade e o amor, no vai e vem de nossa enfermaria social. Ou no desespero iluminado de Liev Tolstói: “A fé é a força da vida”.

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