Ouvi durante grande parte da minha vida que a juventude é o futuro do país (e do mundo) e sempre acreditei nessa afirmação. É verdade que sonhei poder mudar o mundo, resolver seus problemas e ajudar em suas transformações. Tenho certeza de que muitos leitores deste artigo também sonharam. Mas o futuro chegou, e o que se apresenta como realidade nos preocupa. Olho nos olhos das pessoas e percebo o desânimo, a incredulidade e a decepção. E esses olhos, que perderam o brilho de outrora, não conseguem mais vislumbrar um horizonte.
A crise que hoje transforma o panorama do mundo todo nos dá agonia e nos encurrala em uma encruzilhada limitada de possibilidades. A profunda crise que nós brasileiros estamos enfrentando talvez seja a mais inquietante, provocadora e feroz que poderíamos confrontar. Percebo que nós estamos perdidos diante das turbulências do mundo e da vida.
É verdade que construímos alternativas. Relativizamos conceitos. Abrimos caminhos em meio às matas jamais antes desbravadas. Reconhecemos a multiplicidade de identidades. Produzimos conhecimentos que para nossos pais seriam impossíveis. Porém é certo que o mundo nos assusta. A pergunta “para onde vamos?” se distancia ainda mais de uma resposta possível.
O futuro muda a cada instante, o que o torna ainda mais imprevisível. O mundo, cada vez mais líquido, é engolido por desafios cada vez mais sólidos. A angústia pelo futuro incerto é causada pelo presente caótico. Nossas instituições políticas estão afundadas em práticas incabíveis e vergonhosas. As relações entre público e privado se confundem à democracia. Mantêm-se as desigualdades com o aumento dos desempregados, muitos deles jovens.
A moral é sufocada pelo egoísmo, e a ética, degolada pelo oportunismo; o mal, banalizado, e o bem, ridicularizado; as famílias, fissuradas em suas relações. E, nesse processo, o ter tornou-se condição para uma satisfação momentânea de prazer, e o ser foi esquecido por quem nem sabe mais o que se é.
Busco conversar com mais frequência com pessoas mais experientes e, a partir de nossas conversas, me reanimo e passo a acreditar novamente. Elas me dizem: “Calma, vocês jovens são muito ansiosos”. A nossa ansiedade é para superar esses momentos de profunda crise, que nos roubam o brilho, e construir um novo caminho, levando em conta os nossos aprendizados de agora.
Nossa ansiedade é para ver uma mudança moral na sociedade, onde exista um combate intransigente contra a corrupção, respeito às diferenças e onde todos possam conviver em condições dignas. Só assim seremos o exemplo que hoje nos falta. Só assim os diabos que nos separam perderão espaço para os símbolos que nos unirão. Nestes tempos difíceis, onde a desesperança parece ganhar força, os sonhos não podem fraquejar.
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