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Os celulares e a Caverna de Platão

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Outro dia, vi nas redes sociais uma fala de uma psiquiatra em uma dessas entrevistas que me causou um certo espanto. A psiquiatra falava, com aquele ar de superioridade, que o conhecimento é libertador. Até aí, tudo ok, porém, do nada, ela soltou que o celular é a “besta” bíblica e que nós seríamos dominados passivamente etc.

Se retrocedermos meio século, as televisões eram vistas sob a mesma ótica da psiquiatra. Nessa mesma época, os mais velhos também diziam que os LPs de “rock and roll” eram a besta e ainda acrescentavam que, quando tocados de trás para frente, eram hinos satânicos. Para irmos até o cara que problematizou isso tudo, teremos que retroceder quase dois milênios e meio e beber na fonte da famosa Alegoria da Caverna de Platão. O filósofo grego, a grosso modo, nos diz que estamos todos acorrentados no fundo de uma caverna olhando para uma parede. Atrás dessas pessoas acorrentadas, existe uma fogueira, e outros indivíduos transportavam objetos, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde as pessoas acorrentadas ficavam observando aquilo que imaginavam ser a realidade. Uma das pessoas presas na caverna consegue se libertar das correntes e sai para o mundo exterior. Ele consegue enxergar a “realidade” e volta para a caverna para contar a boa nova a todos. Porém todos da caverna chamam-no de louco! Platão achou que ele próprio saiu da caverna e que as cidades da Grécia deveriam ser governadas pelos “reis filósofos”!

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Penso que Platão e nenhuma outra pessoa conseguiu sair da caverna. Somente na filosofia, existem várias cavernas: metafísica, ceticismo, racionalismo, empirismo, ética, lógica, retórica, estética, filosofia analítica, fenomenologia, existencialismo, filosofia da linguagem, filosofia crítica, política, epicurismo, estoicismo e por aí vai.

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Fazer uma analogia entre o celular e a caverna de Platão, tudo bem. Mas daí falar que é uma “besta” é de uma infelicidade atroz. Ouso dizer que a nossa educação é a própria caverna. Desde os assírios, estamos presos em um sistema educacional que privilegia o decorar, repetir e verbalizar; em que o mais “inteligente” é aquele que sabe decorar, repetir e verbalizar o maior número de coisas possível. Será que um dia saíremos da caverna?

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