Construída na primeira metade do século XVIII, por Mathias Barboza da Silva (proprietário de toda a sesmaria que formou a cidade), a Capela de Nossa Senhora do Rosário é a mais antiga igreja da região e, desde 1969, é um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Foi edificada para ser a capela da Fazenda de Nossa Senhora da Conceição do Registro do Caminho Novo. Está localizada na Praça de Nossa Senhora do Rosário, às margens do antigo traçado da Estrada União e Indústria (atual Avenida Cardoso Saraiva), no município mineiro de Matias Barbosa. Este trecho de estrada compunha o Caminho Novo da Estrada Real.
Esta bela capela é mostrada no quadro do artista plástico Antônio Parreiras: “A Jornada dos Mártires”. A tela se encontra no Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora, e traz o que seria a passagem dos inconfidentes mineiros presos na província e a caminho do julgamento no Rio de Janeiro, onde foram condenados. A imagem está presente em vários livros de história.
Sua arquitetura é típica do setecentismo mineiro. A fundação é toda em pedra e traz no subsolo um dos grandes mistérios que envolvem nossos registros históricos: 200 metros de túneis formando uma teia subterrânea. O acesso a ele se dá por um alçapão no assoalho do templo, próximo ao altar. Descendo por uma escada, pode-se andar em pé por uma série de caminhos. De um ponto do túnel, é possível ouvir o que se conversa do lado de fora.
Não se sabe a origem dessas ramificações no subsolo da capela e nem onde seus construtores queriam chegar. O que se observa ali é que a saída (ou entrada) do túnel está bem abaixo da igreja, próximo à Avenida Cardoso Saraiva. Várias lendas procuram explicar o porquê de sua existência. Quando foi construído, existia em Matias Barbosa uma grande barreira alfandegária no lugar onde está a Praça Peter Birkeland. Ali se cobravam os impostos pela circulação de mercadorias e combatia-se o contrabando do nosso ouro e pedras preciosas. A antiga alfândega – ou Registro – estaria na direção da Capela do Rosário. Não seria a intenção dos construtores do túnel levá-lo até ela? A boca do túnel está às margens do traçado do Caminho Novo e do Rio Paraibuna. Não seria uma porta de entrada ou saída de mercadorias e contrabando, ou acesso de fugitivos em busca de refúgio?
Está claro que, independente de seu uso, havia um conluio da igreja na época, que permitiu a construção o alçapão no interior da Capela do Rosário. Vale a pena conhecer este tesouro do Brasil-Colônia em Matias Barbosa. Penso que o lugar seria um bom local para filme-documentário reconstituindo alguma cena do período. Percorri este túnel três vezes e desejo fazer de novo. Desta vez, quero medi-lo e desenhar seu traçado.
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