Escrevo instigado pelo texto O fenômeno PT, publicado neste mesmo espaço. Não objetivo rebater seus argumentos, mas apresentar uma nuance alternativa. O Partido dos Trabalhadores é um patrimônio político sem igual. Nasceu como representante dos desfavorecidos e comprometido com suas aspirações por mudanças estruturais. Sua contribuição para as conquistas sociais remonta a muito antes de ter se tornado Governo; enraizado no movimento popular, sindical e da juventude, se tornou partido de massas protagonizando as maiores mobilizações da nossa história recente: campanha pela anistia, Diretas já, Fora Collor, resistindo ao Governo FHC. Isso sem contar as inúmeras batalhas locais realizadas em cada canto do país. Uma história que comprova que o partido é muito maior que qualquer um de seus dirigentes.
Tendo o PT como Governo, são inquestionáveis as conquistas alcançadas pelos trabalhadores: desde 2003, registram-se ganhos reais no salário mínimo; só entre 2004 e 2008, gerou-se 1,4 milhão de empregos formais (contra 650 mil de FHC); em seis anos de Lula, o índice de pobreza caiu 57,2%; a desigualdade pelo índice Gini é a menor da nossa história. O espaço não permite seguir elencando conquistas referentes a mortalidade e nutrição infantis, relações raciais e de gênero, moradia, regulamentações nas relações de trabalho, etc. Basta consultar as estatísticas disponíveis para se ter uma clara noção do que pretendi apenas ilustrar.
Mas a melhoria das condições de muitos implica perda de privilégios dos poucos. Esta é a real motivação da sanha condenatória movida contra o PT através do julgamento político operado pela AP 470, que, dentre outros absurdos, condena e prende sem provas. Não se trata de moralizar a política encarcerando corruptos; se fosse isso, por que Maluf ainda se encontra em liberdade? O mesmo STF que condenou Dirceu através do abusivo domínio de fato absolveu Collor (cuja corrupção foi comprovada) e concede habeas corpus a todo tipo de empresário trambiqueiro. É importante clarificar: o que se pretende não é atacar este ou aquele indivíduo, mas o próprio PT e, a partir dele, as conquistas e organizações dos trabalhadores.
É verdade que o Governo também merece reservas e críticas. As massas que foram às ruas neste ano demonstram a existência de uma pauta ainda reprimida. Continuam a ser feitas as mudanças estruturais, a começar pela reforma política, que só se dará com uma Constituinte exclusiva. O PT deve enfrentar estes desafios para renovar seu pacto com os milhares que, ao elegê-lo, rejeitaram a política da oposição, cuja incapacidade é expressão do passado superado.