Vivemos tempos em que o mundo parece girar mais rápido do que podemos acompanhar. A cada dia, um novo avanço tecnológico surge, oferecendo soluções para problemas que, muitas vezes, nem sequer sabíamos ter. Nossos dias são repletos de notificações, telas e um fluxo constante de informação, mas, ironicamente, essa era de conexão também nos mergulhou em uma sensação de isolamento e vazio existencial. Preferimos contatos virtuais aos encontros pessoais, e os pequenos aparelhos em nossas mãos têm se tornado companheiros mais frequentes do que as próprias pessoas ao nosso redor.
É curioso como trocamos diálogos reais por conversas digitadas e deixamos de lado o hábito de buscar respostas dentro de nós mesmos. Em vez de contemplar o céu e buscar ali algum sentido, nos prendemos a influenciadores de ideias vazias e, muitas vezes, absurdas. E o mais inquietante é perceber como, ao aceitar cegamente esses discursos, vamos, pouco a pouco, abdicando de nossa própria opinião. Nos tornamos passivos diante de verdades fabricadas, narrativas pagas que nos motivam não a aprender, mas a consumir uma versão superficial da realidade.
Nos distanciamos de momentos de aprendizado profundo, trocamos horas de leitura em livros por posts rápidos e descartáveis. Deixamos de entender a complexidade do mundo para aceitar respostas simplistas e confortáveis. Perdemos o hábito de levantar a cabeça e olhar para o céu, de tentar decifrar os astros ou de reconhecer as constelações que nossos ancestrais viam como guias e conselheiros. São poucos os que sabem o nome das estrelas, que conseguem perceber a beleza oculta do universo. Essa desconexão não se limita ao cosmos; ela também está presente no plano social e político.
Vivemos em uma época em que muitos se dizem experts em política, mas poucos sabem o nome de seus próprios governantes. Não conhecemos nossos representantes locais, não lembramos em quem votamos nas últimas eleições e ignoramos o papel de figuras como deputados e senadores. E, mesmo assim, debatemos política com a certeza de quem sabe tudo. Essa superficialidade nos coloca em uma posição frágil, em que, muitas vezes, defendemos opiniões que sequer são nossas.
Talvez o verdadeiro progresso não esteja na tecnologia em si, mas na capacidade de usá-la sem perder nossa essência. Talvez o avanço seja voltar a olhar para dentro, buscar nas pequenas coisas, como um céu estrelado ou uma conversa sincera, o sentido que estamos perdendo. Porque, no fundo, o que realmente nos falta não é mais tecnologia ou mais informação, mas a coragem de sermos nós mesmos, de ter nossas próprias ideias e de encontrar, no meio desse ruído, o que realmente importa.
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