Depois de passado o plebiscito que aconteceu no Reino Unido, venho nesta Tribuna dar minha opinião devido aos argumentos superficiais que os ditos especialistas dos órgãos de imprensa de todo o mundo proferiram contra os britânicos.
Toda a análise do resultado sobre o Brexit foi pautada sobre a migração que hoje acontece na Europa. Para os analistas, bastou associar a saída dos britânicos da UE à xenofobia e correr para o abraço para tomarem juntos uma cerveja no Bigode. Insuflando palavras de ordem como xenófobos, fascistas, golpistas, idiotas, velhos ignorantes e se posicionando como tolerantes e adeptos ao multiculturalismo, tal questão parece que ficou muito bem resolvida.
Percebo que todas as informações a nível mundial passam pelas agências de notícias tipo Reuters, France Presse, etc. Com estas informações formatadas e pasteurizadas, toda opinião virou uma só, e é por isto que o capitalismo contemporâneo fez a proeza que ele próprio nunca imaginou conseguir: unir a direita e a esquerda. Muitos acham que não existe mais tal polarização, mas existe, sim, só que com uma diferença: ambos dependem do bom e velho capitalismo para crescerem, ficarem fortes e se digladiarem.
Chamar a Grã-Bretanha de xenófoba é depor contra a própria inteligência. Se formos aos livros de história, veremos que quem salvou a Europa da sua própria xenofobia foi o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial. Se voltarmos um pouco mais no tempo, nos deparamos com a beleza de um texto de John Locke: “Carta acerca da tolerância”. Se fizermos um pouco mais de exercício intelectual, veremos que os britânicos fizeram a sua Carta Magna no ano de 1215, e é nesta Carta Magna que está o sujeito oculto de toda a questão.
O que será que um indivíduo grego tem em comum com um indivíduo britânico, ou um português com um alemão, e assim por diante? Nada, não é mesmo? Porém, os europeus continentais tendem a cair na armadilha de tentar unificá-la de tempos em tempos. Foi assim na expansão do império carolíngio, com Napoleão I, com Hitler e com Stalin.
Porém, o império napoleônico deixou de herança aos habitantes da Europa, excetuando-se a UK, o seu Código Civil, que, diga-se de passagem, é um belo conjunto de leis. Mas tal código foi imposto ao povo pelo governante, ou seja, de cima para baixo.
Já a Carta Magna britânica foi elaborada pelo Parlamento para retirar os poderes do rei, portanto, de baixo para cima, e eu arrisco a dizer que as duas nunca vão se encontrar.
Como então um “old labour” ou um conservador do interior da Grã-Bretanha vão entender que um grupo de burocratas que não foi eleito por ninguém defina através de mais de 300 mil normas (não é uma hipérbole) onde, quando, quanto e o que cada país ou cidadão deva fazer? Prefiro, assim, ficar ao lado dos ignorantes trabalhistas e conservadores britânicos do que participar desta massa pasteurizada que só reage quando aquilo que lhe é diferente a incomoda.
Enquanto isso, nos são jogados, diariamente, deveres e normas pelas prefeituras do Brasil afora, pelo Estado de cada um e pelo Palácio do Planalto. O que faremos para reverter esta situação? Deixaremos os “mocinhos” lá de cima nos impondo regras para serem seguidas ou nós que ditaremos as regras que eles devem seguir? E é isso que faz toda a diferença…