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Bullying

artigo do dia moderno
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O recente caso do jovem que assassinou friamente dois colegas, ferindo quatro e deixando uma paraplégica em Goiânia, nos leva a refletir sobre o famigerado bullying. Mesmo com várias ameaças de vingança contra os colegas, ninguém o levou a sério. Talvez a tragédia pudesse ter sido evitada se professores, funcionários, pais e até os colegas prestassem um pouco de atenção no comportamento do jovem assassino. Um rapaz que admirava Hitler, Mussolini, Pinochet e Donald Trump e demonstrava um comportamento atípico. Negava o Holocausto e tentava convencer colegas que Hitler e o nazismo agiram para “salvar seu povo da perdição”.

As ameaças aos colegas e o comportamento diferente do garoto, apresentando talvez traços de psicopatia, não chamaram a atenção de ninguém, e deu no que deu. Outro fato relevante foi o modus operandi, tendo o rapaz demonstrado habilidade no manejo da arma, levando a crer que seus pais, militares, o instruíram a respeito. A possibilidade do acesso à arma pelo garoto foi outra falha dos pais, que fatalmente responderão por isso na Justiça, a chamada culpa in vigilando, prevista no nosso Direito.

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Um caso mais antigo, este vivenciado por mim, foi outro exemplo de consequência nefasta do bullying, naquela época chamado de “gozação” ou “encarnação”. Numa manhã de domingo, eu, que estava de Fiscal de Dia ao 2º Batalhão, fui chamado às pressas ao quartel, onde ocorrera um assassinato de um soldado por um colega seu de farda e que tinha sido preso em flagrante pelo sargento Comandante da Guarda. Pelo fato de estar de serviço, eu era o encarregado natural da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (APF) para remessa à Justiça Militar Estadual em Belo Horizonte.
Tomei o depoimento dos envolvidos (autor da prisão, testemunhas), mas não tive sucesso com relação ao assassino, que permanecia calado, com o olhar perdido no espaço, não reagindo a nenhuma pergunta. Parecia estar em estado catatônico. Depois de horas, solicitei a presença de um médico do Batalhão, que também não conseguiu arrancar uma palavra do assassino, tendo aquele expedido um atestado sobre a situação do soldado, o que me possibilitou encerrar o APF, sem a respectiva oitiva e assinatura do soldado na Nota de Culpa, conforme manda a lei.

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O soldado foi encaminhado à Clínica São Domingos nesta cidade e dias depois foi mandado para o Hospital Galba Veloso, em Belo Horizonte. Posteriormente, ele foi julgado pela Justiça Militar e considerado inimputável por haver praticado o homicídio, acometido de surto persecutório, oriundo de uma psicose. Foi decretada a aplicação de Medida de Segurança contra ele e sua internação por tempo indeterminado, no Manicômio Judiciário em Barbacena. Poucos meses depois, através da ação de um advogado contratado pela família, o soldado foi trazido novamente para a Clínica São Domingos, tendo cometido suicídio pouco tempo depois, enforcando-se numa “teresa” feita com seu lençol.

Após o assassinato, foi-me determinada, pelo Comandante do Batalhão, a feitura de uma sindicância sobre a motivação do crime. Ao conversar com seus familiares, descobri que o soldado havia colocado fogo no seu quarto, quando ainda era civil, já demonstrando um certo desequilíbrio emocional. Descobri também que ele era vítima de gozação por parte de seus colegas de serviço, principalmente pelo soldado que foi morto, que, inclusive, fazia brincadeiras envolvendo a sua noiva e com a qual se casaria, uma semana após a data do fatídico acontecimento. Naquele dia, o assassino, que estava de folga, chegou ao quartel, dirigiu-se à seção onde trabalhava e, sem dizer uma só palavra, descarregou sua arma contra o colega.

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