A Zona da Mata mineira, com 142 municípios, está localizada no eixo mais desenvolvido do Brasil e possui características de crescimento econômico retardado, com uma economia dependente substancialmente de atividades agropastoris, mesmo não tendo boas condições naturais para isso. A ocupação da região teve início em meados do Século XVIII, coincidindo com atividade mineradora na região metalúrgica de nosso Estado. À época, fornecia produtos agrícolas para a população que se dedicava às atividades mineradoras.
O processo de ocupação desordenado contribuiu para a degradação ambiental da região, com reflexo até nos dias de hoje. A densa Mata Atlântica constituía um obstáculo para as atividades agrícolas primitivas, e a solução encontrada pelos colonizadores foi a realização de intensas derrubadas da floresta, com queimadas para a formação das primeiras clareiras de preparação da terra para o plantio e surgimento dos primeiros povoados. A procura do ouro de aluvião fez também com que a vegetação da mata ciliar fosse derrubada e os terrenos revirados até que se iniciassem os trabalhos de mineração subterrâneos. Mais tarde, milhares de carvoarias, que utilizavam mão de obra infantil, alimentavam as aciarias mineiras, contribuindo, ainda mais, para a derrubada da floresta.
A partir de 1800, a lavoura cafeeira consolidou a ocupação da área e contribuiu, mais uma vez, para a derrubada da floresta. A partir de 1960, todavia, a produção de café passou a decair e, devido ao programa de erradicação de cafezais improdutivos, de 1962-67, cerca de 26 milhões foram arrancados na região!
Sem a proteção da vegetação nativa, os solos expostos passaram a ser lavados pelas chuvas e milhões de toneladas de sedimentos, de todo tipo, passaram a ser carreados para as calhas dos rios, com intenso processo de assoreamento. A destruição da mata provocou, ainda, a redução no volume de águas das nascentes, com o desaparecimento de milhões delas. O uso irregular de agrotóxicos nas lavouras, que, no período de chuvas, são carreados para os rios, para o solo e também para a água subterrânea é outro sério problema da região. Somam-se a tudo isso os esgotos gerados nos municípios que, praticamente, são lançados nos rios, córregos e ribeirões sem nenhum tratamento.
Hoje, no Dia Mundial do Meio Ambiente, a região recebe um importante presente: o lançamento, aqui em Juiz de Fora, da “Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata”, em consonância com o “Projeto Macaúba”. Constitui-se em uma palmeira nativa da Mata Atlântica, que se adapta a solos degradados e, em termos comparativos com outras espécies, destaca-se economicamente pela alta produção de óleo vegetal, a partir de seus frutos e sementes, com produtividade e qualidade de óleo; daí, a macaúba ter despertado interesse da comunidade científica brasileira e internacional, bem como das empresas de aviação.
Esta Plataforma, na verdade, tem como como principal objetivo o de promover o desenvolvimento sustentável regional e pode ser aplicada em todos os municípios que assinarem o protocolo de intenção – já realizado por 46 deles. Ademais, serão promovidas melhorias das condições socioeconômicas da população, bem como a recuperação do bioma da Mata Atlântica e das bacias hidrográficas. Estão envolvidas várias instituições públicas e privadas (inclusive internacionais), que contribuirão para a construção de uma solução inovadora e sustentável, além de colaborar para a redução das emissões dos gases efeito estufa gerados pelo setor de transporte aéreo regional, nacional e até o internacional. Esta Plataforma pode constituir-se “na salvação da Zona da Mata” porque estão previstos investimentos da ordem de R$ 2 bilhões e reflorestamento de 130 mil hectares até o ano de 2050, integrando a agricultura familiar e o agronegócio na produção de biocombustíveis e produtos renováveis.
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