Minas não tem mar, mas nas últimas semanas uma maré de enchentes tomou conta da capital mineira. Grandes avenidas foram transformadas em rios, desmoronamentos e graves inundações em mais de 80 pontos da cidade acendem um alerta sobre a capacidade dos municípios em se desenvolverem e ao mesmo tempo agirem para combater o crescimento desordenado, um dos responsáveis pelas enchentes.
Sem dúvida, a impermeabilização que as cidades promovem nos territórios que ocupam agrava essa situação. Quanto mais cresce, sem planejamento, menor é a capacidade da absorção de água de chuva. Há uma equação simples nas enchentes urbanas: são volumes crescentes de água, em um tempo sucessivamente menor, sendo escoados para drenagens, construídas ou naturais, progressivamente incapazes de dar vazão. O resultado é enchentes para todos os lados.
Antes das cidades, as áreas eram ocupadas por florestas, as quais absorviam 85% da água de chuva que recebiam. Com o processo de urbanização, exacerbado e sem critério, essa lógica se inverteu, e a infiltração no solo passa a ser de apenas 15% nos centros urbanos.
Juiz de Fora não é diferente de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. Temos nossas bombas-relógio. A galeria assoreada da Av. Presidente Itamar Franco é um bom exemplo. Com sua capacidade de volume de escoamento trabalhando no limite, basta chover um pouco que os alagamentos se formam nas pistas da via na região do Bairro São Mateus. E o que dizer dos córregos de Santa Luzia, Yung (Linhares), Tapera (Santa Terezinha) e outros no decorrer do município que já sofrem transbordamentos?
A Rua Senador Feliciano Pena, no Mariano Procópio, é exatamente um “funil” – um ponto final – para toda a água da bacia de São Pedro e do Borboleta. Ou seja, quando chove, toda a rua se inunda. E o drama dos moradores em salvar seus bens da enchente já se tornou rotina.
Uma alternativa para minimizar os problemas é aumentar a capacidade de vazão da rede de drenagem e diversificar as formas de retenção de água de chuva, além de orientar o crescimento da cidade. Já apresentei na Câmara projetos de leis que visam a diminuir os impactos da chuva, como a obrigatoriedade de os novos loteamentos instalarem bacias de retenção, aumento de 100% da área permeável nas construções, instalação de sistema de reutilização de água de chuva e revisão do Estudo de Impacto de Vizinhança. É hora de pensarmos na cidade que queremos e adotarmos medidas que minimizem os danos de um crescimento sem planejamento. Não podemos esperar nossas bombas-relógio explodirem.
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