Com assombro, acompanhei a aplicação do Pism, avaliação pela qual tenho carinho e que realizei no triênio 2011-2013 para entrar na UFJF. À época, o Pism era marcado por questões conteudistas, técnicas, em contraste com um Enem mais interpretativo. Hoje, infelizmente, a prova demonstra ter sido capturada por uma agenda política e servir aos seus interesses.
Lembro-me de que, no meu Pism I, uma questão de Geografia causou revolta por exigir que o candidato soubesse de cor o nome da Estrada de Ferro Vitória a Minas, algo não trabalhado nas salas de aula.
Quem me dera se os jovens de hoje pudessem se revoltar com algo assim. Lamentavelmente, numa aberração educacional, o Pism I deste ano optou por produzir questões com base em vieses ideológicos, apesar da ampla gama de temas abrangidos pelo conteúdo programático do exame.
Vemos isso na questão 2 da prova discursiva de Geografia, que se inicia com um excerto de uma notícia de um portal de péssima qualidade, cuja linha editorial se resume em repetir narrativas da esquerda.
A notícia trata da gestão da Funai sob o Governo Bolsonaro – e aqui faz-se necessário um adendo: a horrível gestão ambiental de Bolsonaro, com aumento assustador de queimadas, conflitos em terras indígenas e denúncias de contrabando de madeira ilegal contra o ex-ministro Ricardo Salles, não torna a questão do Pism aceitável, e vice-versa.
Após ler o texto e uma charge, uma pergunta pede que o aluno cite “consequências imediatas decorrentes do desmonte da Funai”. E, conforme o próprio gabarito, sugere que opor-se à ação da Funai leva à “obliteração de minorias”, numa demonstração do autoritarismo que impera na educação aparelhada pela esquerda: “Ou concorda comigo, ou você é genocida”.
Assim, o Pism usa adolescentes, cidadãos em formação, como massa de manobra, manipulando-os a pensar que não há saída para questões ambientais fora de um Estado inchado e intervencionista e descartando soluções privadas para a preservação ambiental e a concessão de títulos de propriedade aos indivíduos que vivem em terras indígenas.
Esse é o retrato de uma agenda que trata indígenas como seres desprovidos de discernimento, incapazes de agir e gerenciar suas vidas e suas terras e dependentes sempre do bondoso e protetor Governo.
Não bastasse, a prova de História, aproveitando-se da presença da Idade Média na ementa do exame, usou uma tirinha de tosca profundida intelectual com um cavaleiro para abordar “minorias” no Brasil contemporâneo, tema não previsto no edital.
Com questões assim, a UFJF literalmente estipula como critério de entrada na universidade o alinhamento ideológico ao pensamento médio vigente na academia. Mas, se deseja tanto o debate sobre minorias, deveria entender que a menor minoria é o indivíduo e que coletivistas jamais serão reais defensores da vida humana.
Infelizmente, o pensamento crítico não cabe na prisão ideológica que domina a educação brasileira e, agora, até mesmo o Pism.