Penso que o Museu Nacional, destruído no domingo por pavoroso incêndio, não deveria ser reconstruído.
Duzentos anos de construção de um acervo que contava com peças de dezenas de milhares de anos estão totalmente perdidos.
Reconstruir o quê? Como recuperar o que foi queimado?
O fóssil de Luzia voltará ao seu lugar? E os dos dinossauros? O mobiliário e a indumentária do Brasil Imperial serão reconstituídos? Documentos, biblioteca e pinacoteca também estão salvos? E as múmias e os sarcófagos? E as coleções de ciências naturais? Está tudo preservado esperando a reconstrução do prédio?
Não! Está tudo perdido.
O que deveria ser feito seria o cercamento de toda a área. E uma enorme placa seria colocada em sua entrada com a seguinte inscrição: retrato de um Brasil que não deu certo.
Seria um monumento ao descaso, à negligência, à omissão…
Se você for a Hiroshima, no Japão, encontrará prédios destruídos pela bomba atômica. Foram preservados como lembrança do pior pesadelo daquele país.
Se for à Europa, encontrará campos de extermínio da Segunda Guerra que também foram preservados como lembrança do lado pior das pessoas, e que não pode mais acontecer.
No nosso caso, seria um monumento ao abandono. Seria uma lembrança para as futuras gerações, a fim de recordarem de uma geração de governantes que, sabendo dos riscos que o espaço corria, não se apressaram em socorrer.
O que irão gastar com a reconstrução é infinitamente maior do que era necessário para a manutenção do que havia ali antes do incêndio. O que veremos agora é o festival do superfaturamento e dos aditivos, a festa do reinício das obras e suas interrupções pelos atrasos no repasse dos recursos. Gastem todo o dinheiro na preservação do patrimônio cultural que restou na cidade do Rio de Janeiro, e vamos transformar as ruínas do Museu Nacional numa espécie de monumento aos governantes ausentes.
A cara do nosso país é o hidrante sem água do extinto Museu Nacional.
Antes deste, três outros grandes acervos brasileiros passaram por grandes incêndios: o Museu da Língua Portuguesa, a Cinemateca Brasileira e o Memorial da América Latina. Qual será o próximo?