Depois das sacolinhas plásticas, as atenções se voltaram para os canudinhos plásticos descartáveis, os “vilões do momento”. Assistimos a uma campanha mundial, com apoio da ONU, contra esse artefato derivado do petróleo. As imagens divulgadas sobre os impactos ambientais resultantes dos descartes inadequados dos plásticos são realmente preocupantes. As ilhas flutuantes de plásticos, o canudinho preso na narina de uma tartaruga, as redes de pescadores descartadas nos oceanos, fragmentos de plásticos em estômagos de animais marinhos e as sacolinhas voando ganharam a internet, contribuindo para criação de leis municipais que restringiram o acesso a sacolas plásticas ou proibiram o uso dos canudinhos. Junta-se a essas imagens o fato de os plásticos possuírem um tempo de decomposição muito longo (centenas de anos), ou seja, não são biodegradáveis.
Mas qual é a quantidade real de canudinhos que são descartados incorretamente? Difícil obter esse dado, uma vez que o descarte inadequado acarreta uma dispersão espacial difusa e de difícil quantificação. Além da questão estatística, nossa maior preocupação se concentra na forma como as autoridades tratam a questão ambiental. Principalmente como escolhem as “prioridades”.
Existe uma visão equivocada de que os problemas ambientais podem ser resolvidos facilmente com medidas legais de proibição e/ou restrição. Reconhecemos que, em algumas situações, pode funcionar, mas a problemática ambiental solicita uma abordagem mais ampla e que atinja a essência dos problemas. Em geral, as políticas de restrições focam mais nos objetos consumidos, um equívoco, pois a questão central não está nos materiais em si, mas na forma como são usados e descartados.
Não é do conhecimento da maioria de nossas autoridades, mas o Brasil possui uma Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/1999), que está completando 20 anos. Mas onde estão as ações educativas voltadas para a sustentabilidade? O problema dos resíduos sólidos, em especial os plásticos, poderia ser razoavelmente amenizado através de campanhas de conscientização e conhecimento para o consumo sustentável. O mais importante é mudar comportamentos e ir além da “criminalização dos materiais”.
Devíamos aproveitar a onda de substituição dos canudinhos de plástico (pelos de metais, vidro, bambu ou papel biodegradável) para inserir um trabalho de conscientização sobre nossas práticas consumistas. Oportunidade para questionar se precisamos mesmo dos canudinhos. Lembramos também que não há mágica na solução, pois qualquer material novo solicitará matéria-prima nova, higienização e descarte correto. Os materiais biodegradáveis não podem ser jogados por aí por conta de serem facilmente decompostos pela atividade microbiana. Precisam ter uma destinação final adequada ou entrar na logística reversa para reciclagem – “Economia Circular”.
Reitero que existem instrumentos legais importantíssimos e que precisam ser implementados, como os “Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”, junto com programas e projetos de Educação Ambiental. Investir em Educação Ambiental será sempre o melhor caminho, mas essa opção não está no horizonte de perspectivas da nossa política.
Voltando à questão central: afinal, precisamos mesmo dos canudinhos? Acreditamos que não, exceto em algumas situações mais específicas. Percebam que em nossos lares, em geral, não utilizamos esse artefato. Portanto a questão em tela poderia ser resolvida com um trabalho de conscientização, o que pouparia esforços parlamentares para serem investidos em questões mais prioritárias na área ambiental.
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.