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“Recapitulação de Cristo”

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Podemos refletir sobre os mistérios que precedem a ressurreição de Cristo. Pensemos, por exemplo, o que faz Jesus no espaço de tempo entre a morte e a ressurreição. A fé cristã nos diz que Cristo desceu à “mansão dos mortos”. Na tradicional oração do Credo (chamada também de “Símbolo dos Apóstolos” por ser considerada o resumo fiel da fé dos apóstolos), assim oramos: “desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia…”. O que isso significa? A Igreja ensina que esta expressão não significa apenas que Cristo morreu, mas também que, antes da ressurreição, desceu para a “Morada dos Mortos” (também chamada na Bíblia de “Hades”, “Sheol” ou “Infernos”). Lá Cristo libertou os justos que o haviam precedido e que, como nós, também precisavam da redenção em razão do pecado original. Assim, Jesus Cristo é também redentor dos mortos de todos os tempos e não apenas do Seu ou do nosso tempo. Por isso, a Bíblia revela que o Evangelho foi igualmente anunciado aos mortos (1 Epístola de São Pedro 4,6). A mansão dos mortos não é um lugar, mas refere-se a um estado de privação da visão de Deus, que Jesus Redentor veio abolir. A Igreja explica que “Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados, nem para abolir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que o tinham precedido” (Catecismo da Igreja Católica nº 633).

Em 2011, o Papa Bento XVI assim explicou: “Esta palavra da descida do Senhor à mansão dos mortos quer sobretudo significar que também o passado é alcançado por Jesus, que a eficácia da Redenção não começa no ano zero ou trinta, mas vai também ao passado, abrange o passado, todos os homens de todos os tempos. Os padres dizem, com uma imagem muito bonita, que Jesus toma pela mão Adão e Eva, isto é, a humanidade, e a guia em frente, guia-a para o alto” (Entrevista a Bento XVI no programa da RAI: “À sua imagem. Perguntas sobre Jesus” em 22/04/2011).
Assim, podemos entender que “Tota vita Christi Recapitulationis est mysterium”. = “toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação”. No século II, Santo Irineu explicou assim: “Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido em Adão, isto é, sermos à imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus. É, aliás, por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo com isto aos homens a comunhão com Deus” (Santo Irineu, Ad. Haer. 3,18,1-7, citado pelo Catecismo da Igreja Católica nº 518).

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O Catecismo da Igreja Católica apresenta uma antiquíssima homilia de autor grego desconhecido que diz: “Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos… Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos” (Catecismo da Igreja Católica nº 635). Na Epístola aos Romanos lemos: “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,9). Santo Agostinho pode então afirmar que fora de Cristo, “caminho universal de salvação, que nunca faltou ao gênero humano, nunca ninguém foi libertado, ninguém é libertado, ninguém será libertado” (Santo Agostinho, De Civitate Dei 10, 32, 2: CCL 47, 312). A Igreja crê que “a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre” (Concílio Vaticano II: GS,10).

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