De fato, sabemos que o sofrimento faz e sempre fará parte de nossa existência terrena. É quase uma parte de nós que negamos até ele bater em nossa porta sem ser convidado. O Papa São João Paulo II (1920-2005), após ter sofrido o atentado na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 1981, escreve em 1983 uma carta apostólica intitulada: “Salvific Doloris – Sobre o sentido do sofrimento cristão”.
Ao tocar nessa ferida humana, podemos nos perguntar qual é o sentido desse sofrimento e por que ele insiste em florescer em momentos em que, no mínimo, ele não deveria nem estar em nossos pensamentos. O então Sumo Pontífice pede para que nós façamos essa pergunta a Deus: “O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento”.
Podemos lembrar quando Jesus pergunta ao cego Bartimeu: “Que queres que eu te faça?”. Sabemos que era óbvia a pergunta de Jesus, o cego queria ver, mas Jesus queria que o cego falasse o que ele queria. Se hoje não estamos passando por momentos ruins em nossa vida, espere um pouco, caro leitor, pois eles vêm com o tempo. O Papa ainda escreve: “Mas, para se poder perceber a verdadeira resposta ao ‘porquê’ do sofrimento, devemos voltar a nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última do sentido de tudo aquilo que existe. O amor é também a fonte mais rica do sentido do sofrimento, que, não obstante, permanece sempre um mistério; estamos conscientes da insuficiência e inadequação das nossas explicações. Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o ‘porquê’ do sofrimento, à medida que nós formos capazes de compreender a sublimidade do amor divino”.
Viktor Frankl (1905-1997) foi um médico psiquiatra de tradição judaica que passou por diversos campos de concentração no auge do regime nazista e perdeu absolutamente tudo, do trabalho à família. Frankl é precursor da Terceira Escola Vienense de Psicoterapia intitulada: logoterapia. Ele escreve em seu livro “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”: “De acordo com a logoterapia, podemos descobrir este sentido na vida de três diferentes formas: 1. Criando um trabalho ou praticando um ato; 2. Experimentando algo ou encontrando alguém; 3. Pela atividade que tomamos em relação ao sofrimento inevitável”. E completa: “[…] Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo-centro deste destino sofrido. Ninguém pode assumir dela isso e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a possibilidade de uma vitória única e singular”.
“Aceitamos a felicidade da mão de Deus; não devemos também aceitar a infelicidade?” (Jó 2,10)
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões.Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.