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Respeitemos o Papa Francisco

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Diante da crescente globalização da comunicação, podemos observar o fenômeno de uma espécie de permissivismo desenfreado em que cada indivíduo se sente no direito de julgar os outros de uma maneira agressiva e quase cega. O Papa também é vítima dessa extrema polarização que divide a sociedade e também ameaça dividir a Igreja que, embora transcenda este mundo, caminha por ele e é sacudida por muitas transformações.
Sabemos que é verdade que nem todas as ações de um Papa são necessariamente definitivas e infalíveis; mas, mesmo nestes casos, não devemos admitir que o Papa é herético a partir de algumas conclusões pessoais, tantas vezes apressadas e superficiais.

A legislação canônica assim nos explica sobre o conceito de heresia: “Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos” (Código de Direito Canônico, cânon 751).

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Às vezes pode-se debater respeitosamente certas questões disciplinares e pastorais que, embora importantes, não tocam a doutrina propriamente dita. É o caso, por exemplo, desta atual questão envolvendo a bênção da Igreja diante de uniões irregulares que foi tratada na Declaração “Fiducia supplicans”. Esta declaração não aprovou as uniões irregulares. Pelo contrário, ela afirma que a doutrina da Igreja permanece firme quanto à indissolubilidade do matrimônio que se realiza exclusivamente entre um homem e uma mulher e pede que se evite ritos e orações que possam causar confusão sobre o que é constitutivo do matrimônio (“Fiducia supplicans” nº 4).

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O ponto que gerou desconforto dentro e fora da Igreja diz respeito à uma questão pastoral (não doutrinal), porque a declaração permite a aproximação de um casal em situação irregular para receber a bênção de um sacerdote, deixando para muitas pessoas a impressão de que a união ilícita estaria sendo abençoada.

Sobre isso, em recente discurso aos participantes da Plenária do Dicastério para a Doutrina da Fé (responsável pela Declaração), o Papa Francisco quis explicar que “não se abençoa a união, mas simplesmente as pessoas que juntas a solicitaram. Não a união, mas as pessoas, naturalmente levando em conta o contexto, as sensibilidades, dos lugares onde vocês vivem e as maneiras mais adequadas de fazê-lo” (Discurso do Papa no último 26 de janeiro). Portanto, vemos aqui que não existiu nenhuma heresia por parte do Magistério da Igreja.

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Isso, no entanto, não impede de debater a questão pastoral. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu procurou o Papa para dialogar e expressar sobre a inconveniência de oferecer bênçãos diante de casais irregulares em grande parte do continente africano. Podemos concluir que eventuais ajustes pastorais ou de linguagem não refletem oposições e hostilidades desrespeitosas entre as partes.

Lembro aqui de algumas palavras do memorável cardeal Ratzinger antes de ser eleito Papa. Ele considerava que o significado que é dado às tensões, e o espírito com que são encaradas não são indiferentes.

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Assim, “se as tensões não nascem de um sentimento de hostilidade e de oposição, podem representar um fator de dinamismo e um estímulo que impele o Magistério e os teólogos a cumprir as suas respectivas funções praticando o diálogo. No diálogo deve dominar uma dupla regra: quando está em questão a comunhão de fé, vale o princípio da “unitas veritatis”; quando persistem eventuais divergências que não põem em risco esta comunhão, salvaguardar-se-á a “unitas caritatis” (Ratzinger: Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: Instrução Donum veritatis nº 25 e 26).

Dizia o admirável Papa São João XXIII: “nas coisas necessárias, unidade; nas duvidosas, liberdade; em todas, caridade” (Encíclica “Ad Petri Cathedram” nº 37 -sobre a unidade da fé-).

Por fim, vale lembrar que a fé é um ato eclesial, e se alguém despreza a autoridade do Papa, rocha da Igreja (Mateus 16,18), que vela por manter viva a tradição apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra irreparavelmente comprometida.

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