As injúrias raciais sofridas pelo jogador brasileiro Vinícius Júnior durante partidas de futebol na Espanha o tornaram um símbolo na luta contra o racismo, batalhando incansavelmente para que o problema seja solucionado. Com o levante do jogador, vários outros brasileiros, indignados com os acontecimentos, demonstraram apoio, e teve início uma enxurrada de críticas à população espanhola, classificando-a como racista e xenofóbica.
Contudo, por que não demonstramos toda essa indignação com os casos que acontecem em nosso país? Por que é tão mais fácil criticar quem está distante de nós e não criticar o que acontece ao nosso redor? Por que não olhamos para nós mesmos?
As agressões sofridas por Vinícius acontecem com milhões de outras pessoas, todos os dias, em nosso país. A diferença é que a maioria das vítimas não tem a mesma visibilidade. Mas deveríamos nos revoltar com a mesma intensidade. Entretanto, não é isso que vemos. Mesmo com o crescimento de casos no Brasil nos últimos anos, preferimos discutir as políticas de combate ao racismo na Espanha, em vez de debatermos soluções para o nosso país.
Os dados corroboram essa realidade. Em 2022, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol constatou um aumento de 40% nos casos de ofensas raciais, em comparação com 2021, passando de 64 casos para 90.
Saindo um pouco do mundo futebolístico, também em 2022, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve um aumento de 67% nas ocorrências de crimes raciais em comparação com 2021, saltando de 1.464 para 2.458 ocorrências.
Contudo, aparentemente, esses aumentos não geraram grande impacto na população brasileira, em comparação com o caso de Vinícius.
Essa contradição nos leva a questionar se não há uma tendência, por parte de nós, brasileiros, de negar a existência do racismo em nosso país e responsabilizar apenas os outros.
Apesar de a frase “fogo nos racistas” ser muito extrema, não acredito que ela deva ser interpretada de forma literal. Creio que foi criada para causar impacto e alertar que medidas drásticas precisam ser tomadas.
Aumentar a pena para esse crime é uma ideia, mas será que apenas isso ajudará? Acredito que não. A solução principal será a mudança de pensamento das pessoas, desconstruindo preconceitos e concepções que, hoje, não são mais aceitos. E, principalmente, passar para as futuras gerações um ideal em que atitudes como essas sejam desaprovadas.
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