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Juiz de Fora, essa desconhecida

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Um título à moda de Alexis Carrel – dirão os que se recordam de O homem, esse desconhecido, best seller de noventa anos atrás, sempre reeditado. Não fui buscar, porém, no médico francês inspiração para este comentário e, sim, em fonte do cotidiano, de menor prestígio intelectual, mas de grande impacto popular: as estações regionais de TV, cujos noticiários insistem em acentuar, quando aludem à nossa cidade: Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Ou fazem muito pouco de JF ou suspeitam que os telespectadores careçam de conhecimentos elementares de geografia. Tendo a crer na primeira hipótese como mais provável, ainda que esse sentimento não seja algo pessoal dos apresentadores, mas um certo preconceito do consciente coletivo, alimentado por setores belorizontinos pouco simpáticos à cidade que lhe é mais antiga e que foi, durante muito tempo, a principal do estado.

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A verdade é que Juiz de Fora sempre foi tratada com desdém por determinadas camadas da capital, desde o seio do povo até o plano mais alto do governo estadual e das instituições em geral. Em tom de chacota, chamam-nos de “cariocas do brejo”. Os olhares dos governantes raramente se voltam para os nossos lados. A importância cultural da cidade onde nasceu a Academia Mineira de Letras (e que, aliás, hoje, não conta com um só juiz-forano aqui residente), onde existe uma universidade federal conceituada ao lado de outros centros de ensino relevantes, não tem merecido o reconhecimento a que faria jus.

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Seria tolice admitir que Juiz de Fora, tendo perdido para a capital, paulatinamente, a hegemonia e a influência que outrora possuiu, à medida que aquela cresceu e agigantou-se, tivesse hoje motivos de ressentimento em relação a BH ou pretendesse disputar prestígio com a bela metrópole mineira, em qualquer área. Mas, JF se jacta, sim, de ser a cidade polo da região, incluindo uma área do estado vizinho, do Rio de Janeiro. Quer ver reconhecido, sim, o prestígio de seu meio universitário e intelectual. E, ao mesmo tempo, não pode desprezar seus vínculos geográficos e históricos com o Rio de Janeiro, nem deixar de torcer pelos times cariocas, no futebol, como é do gosto da sua gente.

É preciso desconsiderar esse suposto clima de rivalidade com BH e é desejável que esta deixe de ter ciúmes de JF em relação ao Rio. Somos mineiros. Orgulhamo-nos de nossa história e das nossas tradições. Sentimos orgulho, igualmente, da nossa capital. Achamos, porém, que, em muitos pontos, merecemos maior destaque. E isso não é querer muito. Parodiando Noel Rosa, Juiz de Fora não quer abafar ninguém / Só quer mostrar que faz samba também.

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