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Tão perto, tão longe

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Ah, a internet. Desde sua criação, na década de 1990, ela revolucionou os meios de comunicação e nosso cotidiano. Pense em como era a vida antes da internet. Consegue? Pois este é um privilégio (ou não) para integrantes da geração Y (millenials) ou anteriores. A partir da geração Z, ou quem nasceu depois de 1995, um mundo sem internet é possível apenas na imaginação. Não é à toa que são chamados de nativos digitais esses sortudos (?).

Ninguém discorda que a World Wide Web permitiu um acesso à informação nunca antes visto. Conteúdos tão diversos quanto livros raros digitalizados, como o Livro de Kells, um dos primeiros ilustrados do mundo, música contemporânea taiwanesa e a arte do grafite finlandês estão disponíveis a um clique de distância. (Ufa!) Isso sem considerar os downloads ilegais. Mais do que isso, há plataformas de conteúdo produzidas e pensadas diretamente para a internet, como os quadrinhos digitais, jogos on-line e podcasts (conteúdo de áudio ou vídeo).

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Também existem, é claro, fenômenos na internet que só poderiam acontecer neste meio. Como a Segunda Guerra Memeal, que fez Brasil, Portugal e Argentina se digladiarem sobre quem produzia os melhores memes. Até hoje a polêmica permanece sobre o vencedor. Pérolas como a Valesca Popozuda pensadora contemporânea e os infinitos memes da grávida de Taubaté também só se encontram por lá.

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A internet, portanto, facilitou muitíssimo a disseminação de conteúdos inimagináveis. Ela também possibilitou conexões inéditas entre as pessoas. O sociólogo britânico Anthony Giddens descreve essa interação: “À medida que áreas diferentes do globo são postas em interconexão umas com as outras, ondas de transformação social atingem virtualmente toda a superfície da terra”. E haja transformação! Isso é ainda mais visível nas redes sociais, como Facebook, Instagram, Flickr e Pinterest.

Há quem argumente, porém, que muitas interações na rede são superficiais, que elas criam uma sensação de acolhimento virtual que não se desdobra na vida em carne e osso. Essa seria uma característica de nossos tempos, voláteis e imediatistas.

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O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, falecido em janeiro deste ano aos 91 anos, criou o termo “modernidade líquida” para definir nossa época. Ele dizia: “Tudo é temporário, a modernidade (…) – tal como os líquidos – caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma”. Levando esta ideia para as relações humanas, as de amizade, por exemplo, feitas nas redes, são desfeitas com extrema facilidade também – se tornam incertas, líquidas, passíveis de serem descartadas. Os estudiosos ainda estão debatendo sobre os efeitos psicológicos e sociais desta nova configuração das relações humanas.

Alguns são otimistas, como o filósofo tunisiano Pierre Lévy afirma em seu livro “Cibercultura”. Para ele, a internet, principalmente através das redes, permite que as pessoas partilhem inteligência coletiva independente de ideologia ou política, sem restrições (com exceção da Coreia do Norte, é claro). Ele acredita que a web facilita a disseminação da voz das minorias, com um alcance inédito.

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O fato de muitas pessoas não utilizarem a internet para motivos informativos ou de entretenimento “culto” não quer dizer nada, por si, em relação ao meio. Lévy poderia ficar desapontado ao saber que uma moda recente no Instagram é tirar fotos em pontos turísticos com roupas, mas com o bumbum de fora; ou, na Rússia, tirar selfies com poses extremas em edifícios altíssimos.

Mas esta é a beleza da web e, por extensão, das redes sociais: liberdade para produzir, consumir e disseminar qualquer tipo de informação. Claro que atividades criminosas devem ser fiscalizadas e punidas, mas até mesmo a infame deep web possui conteúdos relevantes dentro de suas profundezas. Lá, não se vende só cocaína, também se comercializa livro raro (legalmente). E cabe a quem usa a internet definir como e quando irá utilizá-la, se o uso prejudicará suas relações pessoais “ao vivo” ou não. A web e as redes são a ferramenta, se são uma dádiva ou uma maldição, também depende de você.

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