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Em tempos de “Crise”: e a Educação?

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Há uns anos atrás, ignorei os conselhos de meu pai. Ele, profissional competente, um ótimo professor, o melhor que conheci. Seu conselho? Para que eu não prestasse vestibular para licenciatura. Ignorei. Claro! Nasci e cresci dentro da sala de aula. Vivi até aquele período cercado por livros, papéis, listas de chamadas, aulas, vídeos e tantos outros aparatos tecnológicos, ideológicos e de luta da classe do magistério. Prestei vestibular, passei e ingressei num curso de licenciatura. Por uns tempos, eu e meu pai não tocamos no assunto profissão.

No decorrer da graduação, ele percebeu meu envolvimento e disponibilidade para tal e, quando fui defender meu Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, lá estava ele. Ao meu lado, defendendo-me. Mesmo não podendo opinar, ele queria que aquele momento fosse um momento de glória, de vitória, de conquista.

O tempo passou e ingressei no magistério, como professor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) / Língua Portuguesa (LP), tendo como grande incentivador meu pai. Ele percebeu que tudo o que havia construído durante sua vida profissional era um incentivo pra mim. E, mesmo assim, depois de alguns anos, compreendo todos os argumentos que meu ídolo usava para que eu escolhesse outra área de atuação e formação.

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Ouvir de colegas de profissão que ainda não está preparado para atuar com alunos com deficiência, em pleno século XXI, não dá. Ouvir de colegas de profissão que, se comunicar com alunos surdos é parecido como conversar com cachorros, não dá. Ouvir de colegas de profissão que o aluno não sabe nada, não dá. Este não “saber nada” é não saber o quê? O que a escola quer ensinar? Ou o que nós queremos ensinar? Complexo? Crise? Quem se responsabiliza? Ensinamos para alunos surdos numa língua que não é a deles e ainda os culpamos por estarem na escola? Absurdo!

Mario Sergio Cortella diz que, em tempos de crises, de momentos graves, temos momentos grávidos. Momentos em que podem surgir novas ideias, novos rumos, novas estratégias. O momento é agora. Mudança. Aceitação. Alteridade. Precisamos deixar este velho, mas ainda latente discurso, de “falta de preparo”, no passado. Onde ele deveria ter ficado. Precisamos mudar nossas concepções e compreender que a educação, mesmo que para alguns ainda não seja, é SIM, para todos.

Nós, profissionais da rede pública de ensino, deveríamos ter orgulho de poder atuar com o que de mais belo temos, a diversidade humana. Um universo de amor, carinho, respeito, educação, amizade, sonhos, crenças, esperanças… Somos, para muitos de nossos alunos, modelo (assim como meu pai foi e ainda é para mim). E o que fazemos para sermos bons modelos? O que fazemos pelo futuro de nossos alunos? O que fazemos por uma educação melhor? O que fazemos???

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Em tempos de crise, agradeço ao meu pai, pelo exemplo!!!

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