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A Páscoa de Cristo, superação da violência

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Diante de um amor imenso, de um Deus que se faz homem, de um homem-Deus que se faz pão eucarístico, de um Filho de Deus que se dá em sacrifício no suplício tremendo da cruz, a resposta humana, naquela tarde do dia 14 do mês Nizan, foi de ingratidão.
Que resposta é essa da humanidade a tanto amor?! Oferece-lhe a traição em Judas, a condenação na covardia de Pilatos, na hipocrisia e na maldade de Herodes, na execução de um veredicto injusto, na crucificação não só de um inocente, mas de um Deus que se fez um de nós, o verbo que se fez carne.

Que resposta me dais, meu povo, interroga silenciosamente o corpo ensanguentado do Senhor na cruz. Povo meu, que te fiz eu? Em que foi que te contristei? Responde-me. Por que eu te tirei da terra do Egito, preparastes uma cruz para o teu Salvador (Miq 6, 3-4), indagara o Profeta Miqueias.

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São Máximo, o Confessor, no século VII, afirma: o Verbo de Deus não curou apenas nossas enfermidades com o poder dos milagres. Tomou sobre si as nossas fraquezas, pagou a nossa dívida mediante o suplício da cruz, libertando-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, como se ele fosse o culpado, quando na verdade era inocente de qualquer culpa (Das Cartas de São Máximo, o Confessor, abade. LH II p. 271, Séc. VII).

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O Senhor assimilou sobre si todos os pecados da humanidade. Sofreu física, moral e espiritualmente para nos salvar. Sofreu o misterioso abandono do Pai, misterioso, sim, mas compreensível enquanto, tendo carregado sobre si os pecados da humanidade, sente-se inevitavelmente arrastado para longe do Pai, pois entre Deus e o pecado não pode haver proximidade. A força do pecado, o mistério da iniquidade, é como um vento impetuoso que o afasta do Pai Santo. Trava-se uma terrível batalha entre o mysterium iniquitatis e o mysterium pietatis. O mistério do pecado e o mistério da bondade, da graça. Na impossibilidade de conviverem pecado e graça, presença do mal e presença divina, Jesus sente o abandono do Pai. Na verdade, o que está sendo abandonado é o nosso pecado, é o homem pecador, para que se liberte da iniquidade e encontre vida nova.

Perguntemo-nos: nos dias de hoje, onde se encontra Cristo crucificado, em que situações o Senhor está sofrendo a violência das afrontas e da oposição em nossos dias? A Campanha da Fraternidade deste ano propôs como tema a superação da Violência, recordando a palavra de Cristo “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
O Senhor morre hoje, onde morrem tantos inocentes pela violência estabelecida em nosso país, onde o governo e a população vão perdendo a guerra para as organizações criminosas, para o tráfico de entorpecentes, pela falta de uma verdadeira educação de nossos jovens.
Confessamos que Cristo tem um reinado a propor para vencer a onda de violência e todo tipo de mal. Mas seu reino não é político. Tu és rei? Interroga-lhe o confuso Pilatos. Sim, eu sou rei, mas meu reino não é deste mundo. Se o fosse, meus súditos me haveriam de socorrer. Mas meu reino não é daqui (Cf. Jo 18,33-36), responde o Mestre!

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O reino de Cristo não é humano. Cristo veio instituir a Igreja, como caminho de conversão e de vida plena. Não veio simplesmente instaurar um projeto político, pois os projetos políticos são efêmeros e sempre imperfeitos, quando não contraditórios. Contudo suas palavras devem iluminar todos os regimes políticos. Mas o seu reino não é daqui. Vai muito além das organizações humanas e dos limites governamentais, antes é seu Reino o ideal que inspira, na paz e na concórdia, toda necessária transformação social, sem ódio e sem lutas de classes.

Páscoa é isso. Superar toda forma de mal que destrua a dignidade da pessoa humana. É descobrir sempre de novo que Deus é tudo para nossa salvação e sem ele nada foi feito e nem pode existir.
Páscoa é caminho de paz, de santificação, de amor que tudo supera e tudo ilumina. Feliz Páscoa!

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